<article><p class="lead">A competitividade mais acirrada entre participantes do Nordeste aumentou a busca por combustível nas refinarias da região, levando a Acelen a atingir a capacidade máxima de suprimento em meio ao crescimento dos pedidos de distribuidores, que em agosto chegou ao triplo de volumes requisitados previamente. O diretor comercial da empresa, Josué Mateus Bohn, conversou com a Argus sobre a dinâmica de consumo na região, a maior demanda por gasolina e comentou a respeito do processo de dessulfurização do diesel no Brasil. A seguir, os principais trechos da entrevista. </p><p><b>Quais motivos geraram as lacunas no suprimento de combustíveis que a região Nordeste enfrentou no último mês? </b></p><p>Temos uma política de preços instituída com nossos clientes e distribuidores que é vinculada ao mercado internacional, com regra específica e formulada. No fim de julho, sobretudo em agosto, começamos a ter uma composição no nosso modelo de precificação mais competitiva e houve uma escalada nas retiradas de produto da Acelen. Vimos moléculas nossas entrando em Mato Grosso, Goiás e no sul do Ceará. A presença foi bem maior do que estávamos acostumados a ver, tanto para o diesel quanto para a gasolina. </p><p>Nós não temos a proposta de limitar oferta de produto e tivemos clientes pedindo até três vezes mais do que vinham solicitando. O fato de estarmos mais competitivos aumentou o interesse de distribuidores. Quando já não tinha mais produto para entregar, comecei a limitar a oferta. </p><p>No mercado da Bahia entregamos 15pc a mais do que estava definido de volume para gasolina, mesmo com as dificuldades. No caso do diesel, 7pc a mais. Estamos batendo sucessivos recordes de produção no S10, com produção de quase 255.000m³ de S10 nos últimos dois meses. Mesmo com mais oferta, importamos e injetamos no sistema. Houve um momento muito significativo de competitividade no mercado. </p><p><b>Que tipo de dificuldade ocorreu para entregar produto? Os investimentos anunciados recentemente devem ser suficientes para atender à demanda?</b></p><p>Tivemos dificuldades de atender toda a demanda solicitada e não os pedidos contratuais. Quando falo dificuldade é que não consegui atender às demandas adicionais. Tenho um compromisso contratual a ser cumprido. Se eu começasse a entregar além do meu portfólio e da estrutura logística no fim de agosto, comprometeria a performance contratual de setembro. </p><p>Dentro da unidade, vamos passar por períodos de grandes paradas para manutenção ao longo do tempo, mais do ponto de vista de confiabilidade do hardware, adaptação às normas reguladoras e ambientais que precisam ser cumpridas. Não teremos processos de revamp (ampliação e modernização) dentro dessas unidades. Estamos com parada prevista para breve, cumprindo os volumes contratuais no estado da Bahia e com sobra para colocar no Nordeste. Há complemento com importações e já fizemos isso para os meses de parada. </p><p><b>Para o S10 especificamente, o aumento da demanda foi mais expressivo para distribuidoras de pequeno, médio ou grande porte? </b></p><p>As grandes distribuidoras são mais capacitadas do ponto de vista analítico. Conseguem ter uma ideia melhor do que vai acontecer e se preparam. Como os pequenos, normalmente, são bandeira branca e utilizam rapidamente o volume, podem ter ficado sem produto. As grandes entraram forte [no suprimento a distribuidoras menores], mas acabou a cota deles também. Acho que foi isso que aconteceu. </p><p><b>No caso da gasolina, além da paridade desfavorável para o etanol, o que tem estimulado o consumo? </b></p><p>O principal fator foi a acomodação da carga tributária da gasolina. Entendo que isso foi um benefício muito bom para esse mercado e permitiu que o etanol ficasse mais próximo da realidade de preços da gasolina. O outro fator é que vemos um mercado de Ciclo Otto reagindo. Se olharmos os históricos, período pré-eleitoral costuma consumir mais Ciclo Otto também. </p><p><b>Como avaliam o processo de dessulfurização e o fim do S500? </b></p><p>Não vejo S500 perdurando por muito mais tempo no Brasil, acho que perto de 2025 teremos o combustível limitado para alguns segmentos. Mas há muitas preocupações sobre o assunto. Precisamos ter uma capacidade de internalização de S10 para cumprir com essa substituição. O parque de refino brasileiro não terá S10 suficiente para cumprir com a diferença de S500. E é preciso ter capacidade de infraestrutura para poder entrar com produto [S10 via importação] no Brasil. </p><p><b>E o Brasil já está se preparando para essa mudança? </b></p><p>Não. E tem outra coisa: continuará tendo S500. Algumas refinarias, inclusive a Acelen, continuarão com produção S500. Pode aumentar a capacidade de S10, mas continuará existindo S500. Não consegue transformar tudo em S10. Existem duas alternativas: construir uma outra unidade de hidrotratamento de diesel (HDT) para transformar todo S500 em S10 - e isso não é feito até 2025, pelo menos não em boa parte do parque de refino – ou exportar S500. Terá de haver infraestrutura suficiente para sair com S500 e entrar com S10 além da necessidade atual. E não vejo aumento de infraestrutura e capacidade na costa brasileira para isso. </p><p><i>Por Gabrielle Moreira</i></p></article>