<article><p class="lead">Participantes do mercado brasileiro de combustíveis demonstraram surpresa com as novas medidas de monitoramento da União Europeia (UE) sobre as importações de etanol no bloco, mas não esperam que a situação evolua para uma barreira comercial. </p><p>Na semana passada, a Comissão Europeia anunciou a implementação de medidas de vigilância retroativas sobre as importações de etanol de vários países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos.</p><p>As medidas não restringirão as importações, mas proporcionarão um monitoramento rápido e mitigarão potenciais danos futuros aos produtores da UE, segundo o documento. Será exigido dos países-membros que partilhem dados de importação com a comissão.</p><p>Produtores brasileiros consultados pela <i>Argus</i> não estavam dispostos a falar abertamente sobre o anúncio da Comissão Europeia, considerando "muito cedo" para definir uma posição formal sobre as ramificações para produtores e clientes de etanol em ambos os lados do Atlântico.</p><p>Todos concordam que as exportações brasileiras não enfrentarão grandes obstáculos.</p><p>"A Europa é um importador massivo de etanol. Essas cargas são essenciais para compensar a escassez de oferta local", disse um membro da indústria à <i>Argus</i>.</p><p>As fontes argumentam que a história recente das várias medidas anunciadas pela UE para monitorar o setor- incluindo uma semelhante em 2020, solicitada pela França em nome da indústria do etanol - não resultou em repercussões significativas. "Me parece apenas um instrumento de pressão para atender o <i>lobby</i> dos países produtores de etanol, mas precisamos ficar de olho nisso de todo modo."</p><p>Consultados pela <i>Argus</i>, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) disseram que acompanham com atenção os movimentos do bloco e buscarão os melhores caminhos para "para superar eventuais dificuldades às exportações brasileiras, caso isso ocorra."</p><p>O ministério também destacou que os fluxos brasileiros para a UE cresceram nos últimos anos, mas se estabilizaram um pouco entre janeiro-agosto de 2023, com quedas tanto em valores, de $243 bilhões para $213 bilhões, no último período, quanto em volume, de 316.000m³ para 304.000m³, em relação ao mesmo período de 2022.</p><p>O Ministério das Relações Exteriores do Brasil também está monitorando a situação, disseram fontes com conhecimento do assunto.</p><h3>Perspectiva de mercado incerta</h3><p>Os volumes que saem do Brasil em direção à Europa registaram baixa <a href="http://direct.argusmedia.com/newsandanalysis/article/2373655">ao longo de 2022</a>, em um contexto complexo de arbitragem transatlântica mais atrativa, de mudanças nos fundamentos do mercado e do papel importante do etanol na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes dos transportes na UE.</p><p>O conturbado cenário geopolítico no continente resultou em uma disparada nos preços da gasolina e um aumento na competitividade do etanol no mercado europeu, com crescimento da venda de mesclas como o E10 e E85.</p><p>O maior interesse pelo etanol no mercado europeu também reflete a adoção de mesclas mais elevadas de etanol na gasolina em alguns países.</p><p>Grande parte dessa necessidade tem sido atendida por um fluxo mais robusto de exportações do Brasil, em um momento em que a demanda por etanol permanece retraída no mercado interno.</p><p>Ainda não se sabe se esta tendência se solidificará em um fluxo de exportação resiliente, mas há uma oportunidade estratégica para o setor brasileiro de etanol se posicionar como um <a href="http://direct.argusmedia.com/newsandanalysis/article/2487658">fornecedor importante no mercado da UE</a>.</p><p>"Depois de alguns anos de ausência, o Brasil busca, mais uma vez, um papel maior no cenário mundial, o que cria esperança para essa longevidade, mesmo com o protecionismo europeu", explicou a fonte da indústria.</p><h3>Produtores europeus em alerta</h3><p>Na UE, produtores receberam de forma positiva a medida de vigilância, com a Associação Europeia de Etanol Renovável (ePure, na sigla em inglês) descrevendo a decisão como "notícias tranquilizadoras" para o setor.</p><p>"A indústria de etanol renovável da UE está pronta para agir para evitar mais prejuízos, visando preservar o setor e os empregos", disse o diretor-geral da ePure, David Carpinteiro, acrescentando que a medida mira quaisquer desenvolvimentos comerciais que possam surgir da concorrência desleal.</p><p>A medida vem na esteira de um aumento nas importações de etanol para a UE, desde o início da década. As importações de etanol para todos os fins aumentaram quase 80pc, entre 2021 e 2022, enquanto as importações de etanol combustível subiram 45pc, em 2022, em comparação ao ano anterior, com base em dados alfandegários do bloco.</p><p>Os EUA, o Brasil e o Peru foram os principais fornecedores do biocombustível ao grupo no período. A Comissão Europeia observou que o mercado da UE atrai outros países exportadores devido aos seus preços elevados, 15pc superiores aos preços de importação do Brasil e dos EUA.</p><p>Produtores europeus contatados pela <i>Argus</i> não se mostraram dispostos a falar publicamente sobre as medidas, mas o sentimento foi, em geral, positivo entre os participantes.</p><p>A indústria europeia do etanol foi abalada pelo crescimento dos custos de energia, o que levou a um longo período de margens de produção negativas, uma vez que o gás natural é um custo de produção fundamental para os produtores regionais. O suprimento de grãos também se tornou cada vez mais desafiador.</p><p>Incapazes de competir com custos de produção consideravelmente mais baixos, <a href="http://direct.argusmedia.com/newsandanalysis/article/2427916">muitos produtores europeus frearam a produção no ano passado</a>, alguns em até 50pc. Segundo a Comissão Europeia, a indústria local viu a sua participação de mercado diminuir em 10pc durante o período.</p><p>A UE também está considerando estender o estatuto de isenção de tarifas de importação do Paquistão até 2027. O Paquistão emergiu recentemente como o principal fornecedor de etanol não-desnaturado ao bloco e, atualmente, se beneficia da isenção de impostos para as suas exportações de etanol.</p><p><i>Por Vinicius Damazio e Evelina Lungu</i></p></article>