Falando de Mercado: O cenário para fertilizantes diante da safra 2024-25

Author Argus
Compras de insumos em ritmo lento, expectativa de queda nos preços de fertilizantes e posicionamentos firmes por parte de produtores têm marcado o mercado brasileiro de fertilizantes desde o início do ano. Nesse cenário, novas oportunidades também se abrem para investimentos, expansões e novas tecnologias.

 

A repórter do relatório Argus Brasil Grãos e Fertilizantes Gisele Augusto e o country manager da Mosaic Brasil, Eduardo Monteiro, conversam sobre expectativas e desafios do mercado brasileiro de fertilizantes em meio às aquisições para a safra 2024-25 de soja e novos projetos da empresa para atender à crescente demanda do país.

Transcript:

GA: Olá e bem-vindos ao Falando de Mercado, uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Gisele Augusto, repórter de grãos e fertilizantes da publicação Argus Brasil, Grãos e Fertilizantes. No episódio de hoje, converso com Eduardo Monteiro, Country Manager da Mosaic Fertilizantes no Brasil, sobre o mercado de fertilizantes. Olá, Monteiro, bem-vindo.

ED: Olá, Gisele. Muito obrigado pelo convite. É um prazer enorme estar falando com você, com todo o seu público da Argus, um público qualificado, e hoje eu vou ter um prazer e uma honra enorme de poder falar um pouco sobre o mercado.

GA: O prazer é todo nosso, Monteiro. Começando com o panorama do mercado de fertilizantes em 2023-24, temos visto uma menor liquidez, negócios em ritmo mais devagar, uma vez que os preços baixos de soja e milho também desestimulam o produtor a comprar insumos. O que você espera para a sequência do ano? A gente pode esperar que o mercado rode mais volumes em algum momento?

ED: Olha, primeiro, acho que a gente tem que desmistificar um pouco essa questão de o mercado estar em um ritmo maior, menor ou até esse pessimismo generalizado, Gisele. Porque, de fato, quando leva em consideração soja e milho respondem por 60pc do mercado de fertilizantes. Os outros 40pc estão concentrados em cana, em algodão, em café, hortifrutis, que no geral, são culturas que vão muito bem. Quando você olha, isso a gente não tem estatística oficial, mas são estimativas, leituras de mercado que nós temos, o que o mercado já andou este ano, comparado com o ano passado neste momento, a gente está muito próximo. Ano passado a gente estimava que o mercado tinha rodado 55pc do seu total. Esse ano está perto de 50pc, já. Houve uma intensificação de dessa movimentação ao longo das últimas cinco, seis semanas. A explicação inicial é que é principalmente quando você olha o lado do grão, foi uma relação de troca muito favorável para o cloreto que puxou esse mercado fortemente e como reflexo disso a gente também observou essa demanda forte propiciou até um fortalecimento do preço do cloreto de potássio nesse período, nessa janela de quatro, cinco semanas a gente já observou que os preços em algum momento chegaram na casa de $265 e $270 e hoje já estão superiores a $300, $310, $315. Então eu diria que, olha, nesse momento, as coisas estão muito próximas do que estavam no ano passado. O que você tem, sim, é um humor, é uma coisa que a gente tem que respeitar muito por parte do agricultor que tem o seu nível de rentabilidade muito impactado. Esse nível de rentabilidade foi impactado porque os preços de soja e milho se corrigiram e é claro que isso acaba contaminando todo o mercado. E aí eu volto de novo à sua questão do andamento de mercado. Cloreto já andou bastante e a gente no fósforo, quando a gente pensa em grãos, o fósforo ainda está um pouco atrasado por quê? Porque o agricultor acredita que a correção do fósforo poderia acontecer na mesma proporção que aconteceu no cloreto. Só que essa dinâmica dos mercados globais, que vocês navegam e conhecem muito bem, o fertilizante tem seu preço ditado pelo mercado internacional. E hoje o preço do fósforo ao redor do mundo é substancialmente superior ao preço praticado aqui no Brasil. E pensando no Brasil, onde nós temos um mercado que importa 80pc do que consome, a gente não vem enxergando essas correções de preço, o mercado não vem mostrando isso. E aí existem algumas perspectivas. O agricultor, para essa decisão, ele ainda pode esperar um pouco. Não existe motivo de pânico. O que a gente tem que tomar muito cuidado são com os gargalos logísticos, mas nesse compasso de espera, ele espera ver o que que vai acontecer com a China – e a China a agente tem indicativos que não temos um upside em termos de volumes adicionais, comparando com o que foi o ano passado. A gente nesse momento também não está enxergando uma correção drástica no Brasil de preço de fósforo, em função das diferenças em relação aos mercados internacionais, na Ásia, na América do Norte. E nesse compasso de espera, talvez no fósforo a gente tenha um nível de percentual um pouco maior do que deveria. As outras culturas elas vêm puxando bem e, com isso, quando você olha a média Brasil, a gente está muito próximo. Soja a gente está um pouco mais atrasado sim. Eu diria para você que em anos anteriores, a gente tinha algo em torno de 60pc do mercado andado para a soja. E neste ano a gente está com 47-48pc, mas, enfim, também não é um gap muito grande. Outro ponto importante que a gente coloca é que eventualmente esses potenciais atrasos, eles podem em algum momento, aí gerar gargalos logísticos importantes no pico de entregas, a gente não tem uma logística ainda 100pc preparada para absorver uma concentração muito grande, então, isso pode acontecer. Quando a gente olha os níveis de estoques de fertilizantes no Brasil, eles estão bem equacionados, de uma forma geral. Eu diria que no fósforo talvez seja um ponto fora da curva, a gente está com um pouquinho a menos e esse pouquinho a menos não é nenhum ponto de corrida, para preços, é muito mais justificando o que eu acabei de explicar pra vocês aqui em relação às diferenças de preços globais. Mas esses estoques bem equilibrados indicam que, se esse se esse pequeno atraso persistir, a gente talvez tenha gargalos logísticos importantes, que a gente vai ter que administrar.

GA: Eu gostaria até de aproveitar. Você comentou sobre a questão de os fosfatados serem os mais atrasados. A gente tem esse momento em que ainda dá para o agricultor esperar mais um pouco para tomar uma decisão. Internacionalmente, a gente tem visto uma queda forte nos preços de DAP no cfr Índia, que acaba sendo um pouco de um balizador para o mercado brasileiro e também uma expectativa de como as cotações da China foram divididas em períodos de que o maior volume de oferta chinesa venha justamente no período entre maio e setembro. Vocês acreditam que a junção dessa queda na Índia e de uma maior oferta a partir de maio podem ter algum impacto nos preços de fosfatados agora a partir desse momento?

EM: Olha, quando você olha primeiro da janela chinesa, a janela chinesa... A sua pergunta é perfeita no sentido de que eles alocam um volume maior para essa janela de maio a setembro, mas quando você compara este volume com o mesmo volume disponibilizado o ano passado, ele é igual ou menor, ele não aumenta. E aí, quando você olha a situação do estoque brasileiro, que é menor do que o ano passado no fósforo, não é um fator que de alguma forma a gente entende que vai aliviar substancialmente a situação de preços no Brasil. Aí falando um pouco da Índia, e aí eu falo, eu falaria da Ásia de uma forma geral e também da América do Norte. Essas correções vem acontecendo, mas não foram suficientes ainda para balizar totalmente os preços do mercado internacional com o mercado brasileiro e enquanto você tiver geografias ao redor do mundo, não apenas a Índia, mas outras localidades que paguem valores superiores às referências que a gente observa aqui no Brasil, eu acho difícil a gente ter alguma correção de preço aqui no Brasil, mas eu também costumo falar que eu não tenho bola de cristal, isso é uma mera previsão da nossa parte, que necessariamente não implica na realidade.

GA: Maravilha, Monteiro. Aproveitando também o que você tinha comentado sobre a rodagem dos fertilizantes no Brasil, hoje o foco do agricultor e dos compradores é tentar entender quanto rodou de fertilizantes para a soja, porque é a maior safra, e os números acabam sendo diversos, dependendo do estado. Nordeste, Norte se fala de uma rodagem de 50pc para a soja, para a região de Mato Grosso, 60pc. Para a BR-163, chegando a 70pc. Como vocês veem a rodagem para a próxima safra de soja, que é a safra que está no radar de todo mundo, por estado?

EM: Legal Gisele. Bem, essa pergunta é muito boa. E aí, de novo, eu faço um statement aqui. Aqui são projeções. É claro que a nossa abrangência nacional, a nossa capilaridade, nos dá a possibilidade de ter essa leitura mais aprofundada. Mas entre ter a leitura e ser um compromisso fiel aos números reais existe uma certa diferença, porque existem previsões aqui. Mas é o que eu diria pra você, o estado mais avançado, outros mais avançados, Mato Grosso, que sempre na frente, porque lá o agricultor tem essa visão consolidada, incorporada de gestão de risco. Então, Mato Grosso esse ano já rodou 72pc versus 77pc no ano passado. Já que você falou do Nordeste, na verdade, o Mapito, a gente tem a leitura que é este ano está um pouco atrasado em relação ao ano anterior. Um pouco, não bastante atrasado, rodou só 34pc versus 69pc e ele está puxando esse gap da média e um outro estado que está bem atrasado é Minas Gerais. Minas Gerais rodou neste momento aqui 25pc, mas no ano passado ele também tinha rodado 25-30pc. Então, Minas Gerais no absoluto puxa para baixo, mas é uma característica do produtor mineiro postergar essa visão de gestão de risco em relação de troca; ali em Minas Gerais não está tão incorporado como nos outros estados. Mas, em linhas gerais, Mato Grosso, pela sua relevância, pela sua representatividade, é que puxa a média Brasil para cima. E Mato Grosso comparado ano passado com este ano está muito e linha Matopi vem um pouco abaixo, Minas vem um pouco abaixo, Paraná está em linha com o que estavam ano passado, Rio Grande do Sul também um pouco abaixo, mas bem pouco abaixo. Eu diria paraa você que os grandes pontos: de um lado, o Mato Grosso e do outro, o Matopi puxando para baixo. Por incrível que pareça, Goiás também é um estado que a gente acompanha bastante, Goiás está muito próximo, está com 45pc versus 48pc do ano passado.

GA: Perfeito, agora mudando um pouquinho a linha, entrando mais nos biológicos. Vocês enxergam o maior potencial de demanda aqui, uma maior aceitação para esse tipo de produto?

EM: Nós estamos presentes com a plataforma Mosaic Bioscience. Os quatro países que nós operamos: Estados Unidos, primeiro, porque a gente lançou em agosto do ano passado e a gente vem trabalhando já, em uma escala menor, porque o tamanho das operações são menores, mas com China e Índia. Então dentro desse contexto nós somos o quarto, mas essa ordem não está relacionada a relevância dos mercados. Está muito mais relacionada a uma leitura do mercado brasileiro, à complexidade, é um mercado extremamente regulado, que exige um preparo muito grande. E a Mosaic nesse contexto, é muito cautelosa. Antes de fazer um investimento em movimento como esse, é importante que a gente entenda esse mercado, entenda o marco regulatório, e foi por isso que a gente demandou um pouco mais de tempo para entrar aqui. Esse é um mercado que cresce a taxas bastante generosas. A gente observou neste último ano... A expectativa é que o mercado cresça na casa de 30pc ao ano e a gente acha que em até cinco anos o mercado global, e a gente não tem muitas estatísticas de biológicos, como a gente tem de fertilizantes. Mas a gente espera que esse mercado atinja a casa, a cifra de 29 bilhões a 30 bilhões de dólares no mundo. Dentro desse contexto, a gente desenhou uma estratégia onde o principal ponto é conectar isso a ao que a gente tem. A Mosaic tradicionalmente é uma organização que em termos de nutrição de safras, fertilizantes, vem na vanguarda. A gente vem com produtos que são referências nacionais, campeões nacionais. O Microessential disparado a melhor fonte de enxofre, fósforo que nós temos, com uma tecnologia embarcada que ninguém tem copiado de forma tão eficiente, que pode trazer ganhos de produtividade e esses ganhos de produtividade tem a ver com sustentabilidade, que é produzir mais com menos. A gente tem Aspire, que é cloreto com boro embutido, que também tem sua tecnologia embarcada. E os biológicos vêm para complementar nosso portfólio, abrir novos horizontes e a gente acredita no desenvolvimento constante da agricultura per si. E esses são pontos importantes que a gente vai trabalhar na complementariedade dos nossos produtos, fazendo a junção do fertilizante com o bionutriente. A gente lançou quatro produtos específicos: um relacionado à controle de estresse hídrico e outros três relacionados à otimização da absorção de nutrientes, nitrogênio e fósforo especificamente, que aumentam a eficiência da absorção por parte da planta, impacta em taxa de crescimento, impacta em produtividade, a questão específica do estresse hídrico está relacionada a aprofundamento de raiz, que também em linhas gerais, têm o aspecto produtividade. No final do dia, esses quatro produtos foram desenvolvidos em parceria com já players locais aqui no Brasil e gente, com esse network global, espera poder capitalizar, otimizar e trazer também tecnologias de fora para cá.

GA: Vocês têm alguma expectativa sobre quanto vocês pretendem fazer esse ano no Brasil especificamente e qual é o tamanho desse mercado?

EM: Esse é um mercado que a gente mede em litros. Então a gente tem a expectativa de vender esse ano 173.000 litros inicialmente. Mas podemos ser surpreendidos pela demanda, pela receptividade, pela aceitação. E se formos surpreendidos, nós temos capacidade de subir nesse volume. Mas o mais importante é o que a gente espera crescer, olhando daqui para frente. Essa base de 173.000l, que corresponde a R$5 milhões em faturamento, a gente espera que isso cresça em um intervalo de quatro a cinco anos em uma taxa superior a 100x, em função de todo pipeline de produtos que a gente espera trazer.

GA: Para quais culturas normalmente vão esses produtos?

EM: O carro-chefe é para a soja e milho, mas a gente tem no pipeline hoje produtos que serão vertidos para culturas como algodão, como cana, como café, mas hoje essas quatro linhas de produtos que nós desenvolvemos estão atreladas substancialmente a soja e milho.

GA: Como a Mosaic enxerga a chamada região do Arco Norte em termos de alternativas, de oportunidade de crescimento de mercado, desafios da região?

EM: Eu diria para você, quando você olha as taxas de crescimento, e aí eu vou limitar, eu vou para o Matopiba. Enquanto o Brasil cresce em fertilizantes, na média, nossa expectativa 2pc ao ano. Varia de ano para ano, mas essa é a média. A gente espera que lá cresça, no mínimo, o dobro, 4pc. Essa região do Matopiba é uma região que precisa ser ainda desbravada em termos de ter um parque fabril local importante. Porque hoje você tem os polos produtores que atendem São Luís e aí você desce com produto, vai para o Vale do Araguaia, Maranhão, Tocantins, Piauí e Luis Eduardo Magalhães. Parte pode vir dali, mas grande parte vem também via polo de Candeias. E o que a gente anunciou no ano passado foi a construção dos complexos mais modernos de mistura no Brasil, onde a gente planeja investir R$400 milhões em uma fábrica com capacidade de 1 milhão de toneladas, onde teremos uma integração aproveitando-se do desenvolvimento logístico com o porto de São Luís, via ferrovia, mais de 900km totalmente integrados, saindo do porto, indo até a nossa planta, saindo do vagão via correia transportadora, produto colocado na misturadora para ser preparado e entregue ao agricultor. A gente está fazendo isso em Palmeirante, no Tocantins, que é um hub logístico importante, que vai receber soja para ser exportada. Então, a gente vai se aproveitar da logística reversa, trazendo o fertilizante e podendo usar também da logística regional, entregando fertilizante para esses principais polos e, com isso, a gente consegue fixar a nossa presença, que era uma presença menor via São Luís, nessa região do Matopiba. Então, a gente vê essa área com bastante otimismo. A gente entende que, do ponto de vista estratégico, essa nossa planta complementa a nossa presença geográfica no Brasil e nos traz aqui uma vantagem competitiva importante para continuar atendendo os agricultores de uma forma competitiva, eficiente, ajudando o agricultor brasileiro na sua jornada.

GA: Aproveitando que você comentou de Palmeirante, no Tocantins, como está a unidade de mistura armazenagem, distribuição com os volumes, o que você pode comentar nesse sentido?

EM: A gente começou a obra. A obra já está em estágio bastante avançado. A gente espera já expedir produtos este ano. O complexo de mistura não vai estar pronto ainda. A gente tem um escalonamento. A gente espera que até 2026 a gente esteja utilizando o complexo 100pc, mas esse ano a gente já começa uma pequena escala, vendendo elementos simples, aproveitando-se da integração logística, descendo com trens, descarregando em Palmeirante e entregando para os nossos clientes. E gradativamente a gente vai crescer, de forma que ao final de 2026, a gente vem utilizar a nossa capacidade plena naquela região.

GA: Você pode comentar também um pouquinho sobre o complexo industrial de Taquari-Vassouras, em Rosário do Catete, em Sergipe, qual a capacidade de produção atual? Os planos para os próximos anos?

EM: A gente anunciou recentemente um investimento importante na ordem de R$1,2 bilhão, no sentido de estender a vida média útil da mina. Se não me engano, essa vida média útil, a gente está estendendo até 2033. Dentro desse contexto aqui é uma mera estimativa, isso sempre também tende a se alargar um pouco mais. Cloreto é um produto em que o Brasil é altamente dependente, como fertilizante de uma forma geral complexo. O completo Taquari-Vassouras é o único site produtivo no Brasil, então, esse é um investimento relevante, importante e traz segurança para o agricultor brasileiro daquela região, que nós temos, pelo menos naquele contexto ali, uma fonte local importante. É um complexo que produz na casa de 400.000t a 500.000t de cloreto por ano. O consumo do Brasil é muito maior, acima da casa dos 12 milhões, mas, de qualquer forma, dentro da escalabilidade econômica que a gente tem, é um site que a gente vem fazendo investimentos relevantes e importantes para que a gente assegure a manutenção dos volumes produzidos lá.

GA: Muito obrigado por todas as informações, Monteiro. Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!