Falando de Mercado: O cenário para petroquímicos no Brasil

A Braskem, maior produtora petroquímica do Brasil, diz que o atual ciclo de queda no setor é o pior em décadas e afeta diretamente suas vendas de polímeros no Brasil e no exterior.

O declínio no crescimento chinês e o aumento das capacidades operacionais de polímeros na China e nos EUA afetaram os negócios da companhia em 2023.

Camila Dias, diretora da Argus no Brasil, conversa com Fred Fernandes, repórter sênior do mercado de polímeros da América Latina, sobre o cenário para os petroquímicos e as medidas adotadas pela Braskem para enfrentá-lo.

Transcript: 

CD: Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’ – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Camila Dias, eu sou diretora da Argus no Brasil. No episódio de hoje eu converso com Fred Fernandes, repórter sênior de polímeros para a América Latina da Argus, e falaremos sobre o ciclo atual de baixa no mercado petroquímico global e os impactos na maior produtora brasileira de polímeros, a Braskem. Bem-vindo, Fred.

FF: É um prazer estar aqui. Obrigado pelo convite, Camila.

CD: A Braskem, maior produtora mencionou recentemente em sua call de resultados de 2023 que o atual ciclo de queda na indústria petroquímica é o pior em décadas e impacta diretamente suas vendas de polímeros. Pode nos explicar o que está acontecendo?

FF: Certamente, Camila. O setor petroquímico global está enfrentando desafios significativos, e a Braskem, a maior produtora de plásticos das Américas, com base na capacidade anual de produção de suas fábricas no Brasil e nos EUA, não escapou dessa. Mas vamos lá. O declínio no crescimento chinês e o aumento das capacidades operacionais de polímeros na China e nos EUA afetaram os negócios da Braskem, a única produtora de polietileno e polipropileno no Brasil. Além disso, a oferta de resinas aumentou no mundo todo enquanto a demanda global não está tão forte, resultando em margens historicamente baixas para produtores de polímeros, inclusive a Braskem. E mais capacidade deve chegar aos mercados nos próximos anos. No quesito novas capacidades, a capacidade mundial de polietileno continuará a crescer com investimentos em fábricas em grande escala já sendo feitos globalmente e esperados para os próximos 10 anos, de acordo com uma análise recente feita por nossos colegas da Argus em Houston, nos EUA. O mais impressionante será o crescimento em capacidade na China, tanto em número de fábricas como em volume, apesar das vantagens das matérias-primas dos EUA. Com essa capacidade excedente, a China buscará a autossuficiência na produção de polietileno até 2024-25, assim como fez com o polipropileno, onde obteve a autossuficiência no ano passado. Com a China autossuficiente em PE e PP, fecha-se o mercado desse importante centro consumidor mundial.

CD: E como se espera que Braskem lide com esse ciclo de baixa?

FF: A companhia afirmou em sua última call de resultados que está tomando medidas para enfrentar esse cenário de pouca demanda e muita oferta. Entre as soluções que a empresa diz estar buscando inclui-se uma revisão geral em suas operações, focando em áreas estratégicas e priorizando vendas de maior valor agregado. Um bom exemplo citado, é a planta de polietileno no México, que a Braskem considera um ativo mais competitivo nesse momento do que os demais. Lembre-se de que a companhia produz PE no Brasil e no México, e PP no Brasil, nos EUA e na Europa. Em se tratando de polímeros, a Braskem também produz PVC no Brasil, tendo a Unipar Carbocloro como sua única competidora doméstica para essa resina.

CD: É possível que a Braskem consiga ver alguma melhora em seus números no curto-prazo?

FF: Sim, de fato a companhia afirmou que viu melhorias em seus spreads petroquímicos no primeiro trimestre desse ano, mas ainda considera o ritmo de recuperação como lento devido à dinâmica atual de oferta e demanda nos mercados globais. A Braskem afirma que não vê uma volta imediata ao ciclo ascendente, mas que já há sinais de recuperação. Por exemplo, os spreads para resinas e produtos químicos no Brasil e para polietileno no México aumentaram no quarto trimestre do ano passado, e permaneceram em linha com os do polipropileno nos EUA e na Europa no terceiro trimestre de 2023.

CD: Para terminar, podemos falar um pouco da cobertura que temos nos relatórios da Argus em relação a polímeros?

FF: Claro, Camila. A Argus publica semanalmente três relatórios globais sobre polímeros. São eles Argus Global Polyethylene, Argus Global Polypropylene, e Argus PVC and Vinyls. Neles é possível encontrar os preços semanais desses polímeros em mercados do mundo todo, além de comentários sobre cada mercado, paradas de manutenção, questões logísticas internacionais, valores de fretes e muito mais. São publicações muito completas e reconhecidas pelos detalhes de informação.

CD: Perfeito, então fique ligado e acompanhe nosso conteúdo. Fred, muito obrigada pela sua participação. Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!