As importações de etanol pelo Brasil devem acelerar até o fim de março de 2026, refletindo a arbitragem favorável para o produto estrangeiro e complementando a oferta, em um ambiente de estoques curtos e preços elevados no mercado doméstico.
Participantes do mercado estimam que 230.000-250.000m³ de etanol importado sejam entregues no país entre dezembro 2025-março 2026, período de entressafra de cana-de-açúcar no Centro-Sul. Se concretizado, será o maior volume importado para o período de quatro meses desde a safra 2020-21, quando somou 274.723m³, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
As importações de etanol somaram quase 243.400m³ entre abril-novembro de 2025, mostram os dados oficiais.
A expectativa é de que Argentina e Paraguai sejam os principais fornecedores do produto nos próximos meses. Pelo acordo do Mercosul, as importações a partir desses países são isentas da tarifa de 18pc – ao contrário do que parte dos Estados Unidos.
Os desembarques chegariam para atender parte da demanda doméstica, enquanto o Brasil encara níveis de estoques mais baixos que na safra anterior.
Os estoques disponíveis de etanol hidratado somavam 4,9 milhões de m³ em 30 de novembro, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). É 26pc a menos na comparação com o mesmo período de 2024. Os estoques de anidro totalizavam 3,5 milhões de m³, volume 15pc inferior na comparação anual.
As reservas curtas decorrem, em parte, de uma safra de cana que teve seu desenvolvimento e qualidade afetados negativamente pela seca e pelas queimadas de 2024. O resultado foi uma moagem de cana e produção de etanol aquém da safra anterior.
O Centro-Sul fabricou 29,5 milhões de m³ de etanol entre o início da safra, em abril, e 1º de dezembro, queda de 5pc em relação à 2024, de acordo com os dados mais recente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).
O atual ciclo já havia se iniciado com estoques de passagem inferiores, por causa do consumo aquecido de etanol em 2024-25. Em agosto, as preocupações com a oferta aumentaram, com o aumento da mescla de E27 para E30.
Ao longo do segundo semestre, produtores sinalizaram a preferência por não exercer a cláusula de flexibilidade nos contratos de anidro que permite aumentar em até 30pc o volume adquirido ao longo da safra.
Além disso, o clima impõe um ponto de atenção. Um março e abril chuvosos no próximo ano poderiam atrasar o início da moagem de 2026-27, deixando o suprimento ainda mais apertado.
Ajuste no mix aplaca receio com oferta
Mas a virada bem-sucedida no mix da produção para o etanol neste semestre – e para o anidro em particular nas últimas quinzenas – trouxe algum alívio para tais temores.
A safra corrente começou com expectativas de que a parcela de matéria-prima direcionada para a produção de açúcar aumentasse para 52pc, depois dos investimentos em capacidade de cristalização. Mas o adoçante deixou de remunerar mais que o etanol no meio do ano, fazendo com que produtores revissem a estratégia e maximizassem a fabricação do álcool.
O mix do Centro-Sul ficou em 64,48pc etanol e 35,52pc açúcar na segunda quinzena de novembro, de acordo com a Unica. Isso se compara com 55,36pc etanol e 44,64pc açúcar em igual período de 2024.
A produção do anidro também foi reforçada na sequência do anúncio do E30. Algumas usinas de etanol de milho migraram 100pc de sua produção para o anidro. No Centro-Sul, a fabricação de anidro somou 457.000m³ na segunda metade de novembro, alta de 10pc na comparação anual, informou a Unica.
Esse alívio fez com que o mercado ajustasse suas estimativas de importação para números mais conservadores.
A projeção de importações de aproximadamente 500.000m³ de etanol em 2025-26, somando o volume realizado e a estimativa de 230.000-250.000m³, fica mais próxima da ponta inferior das previsões de julho, quando participantes esperavam 400.000-800.000m³ importados no ciclo.
Por Maria Lígia Barros

