Os mercados de combustíveis das Américas começam a demonstrar os primeiros sinais de recuperação, conforme as medidas de restrição de mobilidade impostas durante a quarentena vêm sendo relaxadas.
Em quais países esta recuperação tem sido mais expressiva e quais são os efeitos esperados na região?
No episódio desta semana da série Falando de Mercado, Vanessa Viola, Vice-Presidente Sênior da Argus para a América Latina, e Clayton Melo, Diretor da Argus no Brasil, fazem um balanço do mercado de combustíveis nas Américas ao completarmos 100 dias de quarentena.
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Transcript
Clayton Melo: Olá e bem-vindos ao Falando de Mercado – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos impactando os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Clayton Melo e eu sou o diretor da Argus no Brasil. Hoje nós recebemos Vanessa Viola, vice-presidente da Argus para a América Latina, para falar sobre o mercado americano de combustíveis 100 dias após o início das medidas de distanciamento social implantadas para combater a pandemia do novo coronavírus. Bem-vinda, Vanessa.
Vanessa Viola: Obrigada, Clayton.
Clayton: Vanessa, você esteve com a gente em abril, quando o mercado americano atingiu o ponto mais forte da queda do consumo de combustíveis. Como está o panorama agora, quase três meses depois?
Vanessa: Clayton, a maioria dos países que divulgaram dados oficiais para maio e junho estão passando por uma recuperação da demanda em relação aos níveis de abril, mas ainda assim o consumo continua muito abaixo do nível do ano passado, especialmente no caso da gasolina e do querosene de aviação. A gente ainda não tem os números fechados do segundo trimestre, mas a expectativa é que a demanda por derivados em geral na América do Norte caia 4.62mn b/d no período versus o ano passado, chegando a 18.2mn b/d. Falando especificamente de EUA, principal exportador de derivados claros pra América Latina, dados preliminares da EIA mostram um aumento do consumo de 14.7mn b/d em abril para 17.7mn b/d em junho. Mas esse número ainda está 2.8mn b/d abaixo do nível consumido no mesmo período em 2019.
Clayton: E o que estimulou essa recuperação?
Vanessa: Esse aumento de demanda de combustíveis aconteceu por conta do relaxamento de restrições de lockdown na maioria dos estados, com a economia reabrindo em ritmos e em níveis diferentes pelo país. As pessoas voltaram a sair de casa, o que naturalmente aumenta a demanda por gasolina, muitas delas preferem dirigir em vez de tomar transporte público, e voltaram a frequentar lojas, bares, restaurantes e até academias. Mas infelizmente essa reabertura foi feita de uma forma muito pouco estruturada na maioria dos estados e os casos de Covid-19 voltaram a subir drasticamente, especialmente em estados como Texas e Flórida. Ou seja, essa recuperação pode ter vida curta.
Clayton: E o diesel, apresentou o mesmo nível de recuperação?
Vanessa: O diesel, no início da pandemia, se mostrou muito mais resiliente do que a gasolina, sustentado pela movimentação de bens, compras online, re-estocagem de supermercados e o plantio agrícola. Mas a demanda por diesel teve uma queda mais significativa a partir de maio quando se começou a sentir mais os impactos da pandemia na economia. O diesel é muito sensível a contrações econômicas. Outro fator importante que fez com que os estoques de diesel subissem muito aqui nos EUA foi o querosene de aviação. O colapso do setor de aviação aqui reduziu a demanda por voos a 5% do nivel de 2019 – uma queda brutal. E com isso as refinarias começaram a mesclar QAV no pool de diesel, fazendo com que os estoques subissem muito. E apesar de uma leve recuperação no números de pessoas voando, as empresas aéreas acreditam que deve demorar pelo menos 5 anos para voltarem aos níveis pré-pandemia. Ou seja, essa tendencia de mescla de QAV no pool de diesel deve continuar. O que poderia dar um alento aos altos estoques seria um inverno rigoroso e uma colheita forte aqui no hemisfério norte.
Clayton: E como tudo isso tem impactado o nível de utilização das refinarias americanas?
Vanessa: As refinarias vinham operando em média em torno de 95% e tipicamente chegam a operar a capadidade total durante o verão no hemisfério norte. Com a pandemia, esse nível chegou a cair pra baixo de 70%. Vimos uma recuperação para uma média nacional em torno de 74% agora em junho (e de 79% no Golfo Americano) mas o sentimento entre as refinarias é de muita incerteza, especialmente com o aumento recente de casos de Covid-19 que estamos tendo aqui no sul e sudeste e possibilidade de novas restrições de lockdown.
Clayton: E o que você tem visto do lado das exportações, especialmente na costa do Golfo Americano?
Vanessa: A gente também viu uma recuperação nas exportações de combustíveis claros do Golfo Americano até o dia 22 de junho, a média foi de 1.2mn b/d, um aumento considerável em relação à média de 720,000 b/d de maio mas ainda abaixo da média de 2mn b/d de junho de 2019. O principal estímulo pra essa recuperação no volume de exportações veio do México e do Brasil, que começaram a relaxar suas restrições de lockdown. A grande questão agora é se as refinarias americanas vão conseguir encontrar um equilíbrio entre boas margens e demanda por exportação. Esse aumento que a gente viu nas exportações pode ser revertido ou pelo menos ficar limitado por conta de altos estoques em países importdores e uma pandemia ainda descontrolada na América Latina, que é o principal destino dessas moléculas. No caso do México, os estoques de gasolina estão acima da média em parte porque a Pemex aumentou sua produção em 10pc. E no caso do Brasil, o apetite por importações de gasolina é limitado pela oferta ampla de etanol e aumento da produção local da Petrobras.
Clayton: Algum outro fluxo relevante de comercialização de claros que apareceu nesse período para a América Latina?
Vanessa: De modo geral, a demanda por combustíveis na América Latina permanece limitada por conta da pandemia. Talvez o fluxo mais relevante fora de México e Brasil seja para o Panamá, que tem sido usado como uma boa válvula de escape para as refinarias do Golfo Americano por conta da sua posição estratégica como ponto de entrada para a América Latina e Caribe e ampla capacidade de estocagem. A gente viu uma média de 87,000 b/d/ do Golfo Americano para o Panamá até agora em junho, bem acima da média de 31,000 b/d observada em maio, nível mais alto desde fevereiro de 2019. Esse fluxo ajudou a melhorar as margens das refinarias pro melhor nível em três meses e estimulou alguns produtores a aumentarem sua produção.
Clayton: Muito obrigado, Vanessa. Se você quiser saber mais sobre os impactos da pandemia no mercado global de commodities, acesse nosso microsite dedicado ao assunto em www.argusmedia.com/coronavirus. Voltaremos em breve com mais uma edição do Falando de Mercado. Até logo!