Falando de Mercado: Perspectivas para o mercado de ARLA 32

Author Argus

O ARLA 32 – ou AdBlue, como é conhecido na Europa - tem sido cada vez mais utilizado em veículos pesados no mundo todo para reduzir emissões de poluentes e dano ambiental. Qual o tamanho deste mercado no Brasil e sua perspectiva de crescimento à medida que a frota doméstica de caminhões se renova?

No episódio desta semana da série Falando de Mercado, Clayton Melo, Diretor da Argus no Brasil, conversa com Fabricio Cardoso, Gerente de Pesquisa e Consultoria da Argus e Editor do relatório Argus AdBlue and DEF Monitor, sobre as perspectivas do mercado de ARLA 32 no Brasil e no mundo.

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Transcript

Clayton: Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’ – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Clayton Melo, Diretor da Argus no Brasil. Hoje eu converso com o Fabricio Cardoso, gerente de pesquisa e consultoria na Argus e editor dos relatórios que nós temos para o mercado global de ARLA 32 e responsável pela nossa pesquisa em ureia industrial. Bem-vindo, Fabricio.

Fabricio: Obrigado, Clayton, obrigado pelo convite.

Clayton: Fabricio, o ARLA 32 é um produto utilizado no Brasil há alguns anos. Vamos falar do mercado brasileiro e também um pouco do mercado internacional, mas antes, você poderia falar um pouco sobre o que é o ARLA 32?

Fabricio: Claro, vamos lá. O ARLA 32 é uma solução aquosa de ureia que é utilizada como um reagente em sistemas de pós-tratamento em veiculos pesados para reduzir a quantidade dos gases NOx gerados por motores diesel. Ele começou a ser utilizado por caminhões na Europa há quase 15 anos, onde ele é conhecido por AdBlue, e hoje está presente em todos os mercados nos quais a norma de emissões é rígida a ponto de os fabricantes de caminhões optarem por utilizar esta tecnologia de pós-tratamento. Ele não é obrigatório, mas o sistema SCR, que utiliza o ARLA, é considerado hoje o mais eficiente pra reduzir as emissões pro nível permitido.

Clayton: E você disse no começo que é uma solução de ureia?

Fabricio: Isso mesmo. É um produto bem simples, uma mistura de ureia e água, mas como o ARLA 32 atravessa um catalisador com metais, tem que ser feito com ureia com um grau maior de pureza, e também tem que ser água deionizada, então não pode ser feito com ureia fertilizante, e tem que ser produzido por empresas credenciadas. No Brasil existem cerca de 90 fabricantes credenciados pelo Inmetro.

Clayton: E quanto um caminhão consome de ARLA 32 normalmente?

Fabricio: Quanto cada caminhão consome depende do tamanho do motor, da norma de emissão, que vai influenciar a porcentagem dos gases poluentes que tem que ser removida, e também como o caminhão foi configurado pela montadora. Mas pra te dar um número, a maior parte dos caminhões consome de 3 a 5% da quantidade de óleo diesel, e vai ser algo entre 600 e 1200 litros por ano.

Clayton: Interessante. E é possível saber qual o volume de ARLA consumido no Brasil hoje?

Fabricio: Não existe nenhum dado oficial, mas eu e o meu time acompanhamos o mercado brasileiro desde 2012 quando a norma Proconve P-7 entrou em vigor no Brasil. Nós estimamos hoje que o consumo em 2019 tenha ficado em torno de 480 milhões de litros. Não é uma conta simples porque como eu expliquei na resposta anterior cada caminhão tem um consumo diferente, mas nós temos bastante confiança nesses valores porque além de estimarmos o mercado com base na demanda, também conversamos regularmente com a grande maioria dos produtores de ARLA no país.

Clayton: Se eu fizer uma conta rápida, isso é um pouco mais de 1% do consumo de diesel rodovíario hoje. Por que não é entre 3 e 5%, já que essa é a proporção entre consumo de ARLA e de diesel?

Fabricio: Claro, essa é uma pergunta que muita gente faz. Seria 4 ou 5% se todos os caminhões que consomem diesel também consumissem ARLA, mas esse não é o caso. Como a norma começou em 2012, o produto só é consumido pelos caminhões e ônibus fabricados a partir desse ano, e no Brasil a frota é bem antiga, pelo menos metade dos caminhões em circulação tem mais de 10 anos. E também não são todos os caminhões, alguns motores menores conseguem atingir a norma sem utilizar o ARLA. E um terceiro ponto, nos primeiros anos do mercado, apareceram emuladores, claro que ilegais, que permitem burlar o sistema e permitir que o caminhão rode sem o ARLA. O problema disso é que as emissões de gases poluentes aumentam em quase 30 vezes, um prejuizo ambiental enorme pra uma economia pequena, e um risco pro condutor de levar multa, ser preso e perder a garantia do caminhão. Mas infelizmente ainda existem caminhões rodando por aí, e ilegalmente não consumindo o ARLA.

Clayton: Entendido. Então, 480 milhões de litros em 2019, por volta desse valor em 2020?

Fabricio: Mais que isso. O mercado de ARLA cresce num ritmo bem mais rápido que o de diesel, a medida em que a frota vai aumentando e que caminhões mais antigos são substituidos por caminhões novos, que consomem ARLA. No começo do ano, nós esperávamos que a demanda crescesse em quase 20% esse ano e chegasse a 580 milhões de litros, mas hoje já sabemos que isso não vai acontecer porque com o coronavírus houve uma desaceleração na atividade econômica e no consumo de ARLA. Ainda não sabemos quando tudo volta ao normal, mas hoje nossa projeção é de um crescimento de 7 ou 8%, chegando em 520 ou 525 milhões de litros.

Clayton: Obrigado pelos dados, Fabrício. Pra concluir, você poderia falar um pouco do mercado internacional? O consumo é muito maior fora do país?

Fabricio: Olha, de uma certa forma todos os mercados são muito parecidos, porque existe uma certa padronização nas normas de emissão, e os sistemas de pós-tratamento são os mesmos independentemente do país. A demanda é maior na Europa e nos Estados Unidos porque as frotas são maiores e esses mercados começaram antes, e agora os caminhões estão um passo a frente e têm que se adequar à norma que vai entrar em vigor no Brasil em 2022, mas isso também não significa que os caminhões lá consomem mais ARLA que aqui, eles só são mais eficientes. Outro ponto, na Europa, Estados Unidos, Japão, Coreia, além de caminhões e ônibus, existem carros a diesel e máquinas de uso não-rodoviário como tratores e escavadeiras também consumindo o produto. E nesses mercados o uso de emuladores é bem menor, se bem que em outros países como Rússia, China e Índia a situação é ainda pior que a do Brasil.

Clayton: Então é um produto que veio pra ficar. Para os produtores de ARLA, existe algum risco dele não ser mais utilizado?

Fabricio: Não. Os caminhões e ônibus rodam por 15, 20 anos, então a curto e médio prazo esses veículos vão precisar de ARLA, e como disse antes a frota não para de aumentar, não existe uma solução alternativa. Nós acompanhamos, claro, o desenvolvimento de caminhões e ônibus híbridos e elétricos, que não precisam do produto. Existem, claro, alternativas pra ônibus elétricos, mas para caminhões ainda são bem limitadas, e nós não conseguimos ver o motor a diesel deixando de ser a melhor opção para veículos pesados e transporte de carga.

Clayton: Muito obrigado, Fabricio.

Se você quiser saber mais sobre os impactos da pandemia no mercado global de commodities, incluindo no mercado global de ARLA 32/AdBlue, acesse nosso microsite dedicado ao assunto em www.argusmedia.com/coronavirus.

Voltaremos em breve com mais uma edição do Falando de Mercado. Até logo!

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