Junte-se a Camila Dias, chefe de redação da Argus no Brasil, e Alexandre Melo, repórter da publicação Argus Brasil Combustíveis, em uma conversa sobre o último leilão público de biodiesel e como as distribuidoras estão mudando suas estratégias de compra do biocombustível, de olho na abertura do mercado, prevista para janeiro de 2022.
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Transcript
Camila Dias: Olá, e bem-vindos ao Falando de Mercado, uma série de podcasts trazidos pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo.
Meu nome é Camila Dias, eu sou chefe de redação da Argus no Brasil, e no episódio de hoje eu converso com Alexandre Melo, repórter da publicação Argus Brasil Combustíveis, sobre o último leilão público de biodiesel e como as distribuidoras estão mudando suas estratégias de compra do biocombustível, de olho na abertura do mercado, prevista para janeiro de 2022. Bem-vindo, Alexandre.
Alexandre Melo: Obrigado, Camila. É um prazer estar aqui novamente.
CD: Alexandre, até onde se sabe, este foi o último leilão público realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a ANP. Como foi esse leilão?
AM: Camila, foi um certame com alguns contratempos técnicos que fizeram as negociações atrasarem em relação ao cronograma original.
O resultado oficial será publicado daqui a alguns dias pela ANP, mas os dados informados pelos participantes de mercado indicam que o volume negociado no leilão atingiu 1,072 milhão de m³, ficando em linha com a projeção de distribuidoras e usinas.
Camila, já o preço médio, sem considerar a margem da Petrobras, alcançou R$5.907 por m³, ficando R$294 por m³ acima da média das estimativas. Isso refletiu o aumento do custo do óleo de soja e do sebo bovino, que são os principais insumos para a fabricação do biodiesel.
Apenas para dar uma ideia, o preço do óleo vegetal subiu 4,1pc entre 13 de agosto e 4 de outubro, que é o intervalo entre os leilões, enquanto a gordura animal teve alta de 12,2pc. Além disso, o dólar valorizou pouco mais de 3pc ante o real.
CD: Esse foi realmente o último leilão? O que falta agora para a migração para um novo modelo de comercialização de biodiesel no país?
AM: Camila, essa é a pergunta de 1 milhão de dólares neste momento. A meta do Ministério de Minas e Energia é que o novo formato de comercialização do biodiesel entre em vigor até 1 de janeiro de 2022, como a gente já falou inclusive aqui no Falando de Mercado.
Mas existe um grande problema para resolver no Conselho Nacional de Política Fazendária, o Confaz, que é a acumulação de créditos tributários pelas usinas. A expectativa é que esta questão seja solucionada até o fim do ano e nesta semana o Conselho Nacional de Política Energética, o CNPE, decide se vai ou não estender os leilões.
Durante a consulta e a audiência públicas, algumas distribuidoras sugeriram à ANP a possibilidade de realizar um último leilão em dezembro para que produtores e distribuidores tenham mais tempo para se adequarem às novas regras e mitigar eventuais impactos no abastecimento.
As usinas, como conversamos anteriormente, querem que o governo prorrogue o prazo para o novo modelo entrar em vigor, além de um período de testes para o sistema de vendas diretas.
Para que a migração aconteça, a ANP ainda precisa analisar todas as contribuições, acatá-las ou não, e homologar as novas regras. Só então será publicada a nova regulamentação.
CD: Mesmo nesse ambiente de leilões, você apurou que já existe um mercado de negociação de biodiesel paralelo, fora dos leilões, entre distribuidoras, ou como falamos, entre congêneres. Conta pra gente como é isso?
AM: Exatamente. Esse é um mercado que sempre existiu, mas até meados de abril as transações entre congêneres eram a principal ferramenta para ajustar um possível descasamento entre oferta e demanda, além de atender às redes pequenas que não participam dos leilões públicos.
Este comércio entre as varejistas costuma ser mais líquido na semana seguinte ao leilão. Mas as negociações aumentam quando o preço do biodiesel para o bimestre seguinte é inferior ao do período vigente. Daí as redes com excedente de produto procuram potenciais compradores para escoar estoques remanescentes nas suas bases antes da virada do mês. Neste cenário, a estratégia é iniciar o próximo mês com o estoque abaixo do limite regulatório para não ter prejuízo.
Entretanto, Camila, quando a situação é de aumento nos preços do biodiesel, como aconteceu no leilão deste mês, as distribuidoras querem iniciar o bimestre com quantidade maior de produto para ter um ganho com inventário.
CD: Por que essas transações passaram a ganhar força?
AM: Você deve lembrar que a mistura obrigatória de biodiesel no diesel este ano é de 13pc, mas dos cinco leilões que a ANP fez, apenas o primeiro, para abastecer o mercado em março e abril, foi neste patamar. Os demais foram com 10 ou 12pc.
Foi justamente esta instabilidade na mescla das licitações que causou um descompasso na programação de algumas empresas em meio ao cenário de recuperação da demanda por diesel B, que é o combustível fóssil misturado ao biocombustível.
Além disso, Camila, as varejistas estão atentas à abertura do mercado de biodiesel. Por isso, estruturaram mesas de trading nos últimos meses para negociarem o produto no mercado à vista com suas concorrentes. As empresas estão comprando mais biodiesel nos leilões, mas agora com o objetivo de obter resultados financeiros. De maneira bem simples: é uma forma delas se prepararem para comprar o produto das usinas no mercado à pronta-entrega.
Um levantamento da Argus identificou que o volume negociado entre as quatro maiores redes e seus pares somou 15.000m3 em setembro, alta de 50pc ante agosto. Apesar do aumento expressivo, a quantidade representa apenas 1,2pc dos quase 1,3 milhão de m³ adquiridos no certame para setembro e outubro.
CD: Interessante, Alexandre. Detalha um pouco sobre como funciona esse mercado.
AM: Camila, as distribuidoras têm como referência o preço do produto comprado no leilão, certo? Então no momento da venda são incluídos ao preço custo do frete, quando o produto é levado, por exemplo, do terminal de Paulínia para Guarulhos mais a margem de lucro. E não há incidência de impostos.
A principal modalidade das vendas é via transferência dos produtos entre os tanques das varejistas.
Para acompanhar este mercado que está ganhando musculatura, a Argus passou a acompanhar essas transações em agosto e lançou em 1 de outubro dois indicadores de preços: um em Paulínia, em São Paulo, e outro em Araucária, no Paraná. Esses são os polos distribuidores mais importantes do país.
CD: Alexandre, e nas suas apurações desse mercado, o que vc tem observado sobre o comportamento dos preços nestas duas praças?
AM: As cotações do biocombustível negociado em Paulínia e Araucária subiram ao longo das últimas semanas, mas em 8 de outubro ficaram em campos opostos.
Com o resultado do leilão indicando preços maiores, parte das distribuidoras reduziu a oferta para manterem seus estoques elevados e terem ganho com inventário. Consequentemente, a liquidez diminuiu um pouco.
Em Paulínia, os preços caíram R$30/m³, ficando entre R$5.800-5.820/m³. Já no terminal de Araucária, aumentaram R$90/m³, para R$5.700-5.780/m³.
CD: Obrigada, Alexandre. Vamos continuar acompanhando os desdobramentos dessa discussão para a abertura do mercado de biodiesel no Brasil.
Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!