A indústria automotiva brasileira prevê desafios para atender às exigências ambientais em 2023, já que as demandas para diminuir o uso de combustíveis fósseis aumentam em todo o mundo.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) espera que a produção de veículos pesados, que inclui caminhões e ônibus, totalize 154.000 unidades este ano, queda de 20,4pc em relação a 2022.
A principal razão para a redução é a norma P-8 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) - que é equivalente ao programa europeu chamado de Euro VI - que entrou em vigor em 1º de janeiro. A regra introduziu uma série de novos requisitos de equipamento para reduzir as emissões poluentes a um nível semelhante ao da Europa, de acordo com a Anfavea. A mudança tem um impacto relevante nos custos de produção e nas vendas de caminhões.
O Proconve é um programa de controle da poluição do ar para veículos automotores introduzido em 1986 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Sua oitava fase exige que os caminhões utilizem motores diesel que combinam duas tecnologias de redução da poluição - o de Redução Catalítica Seletiva (SCR) e o de Recirculação de Gases de Exaustão (EGR). Os caminhões brasileiros também devem utilizar com maior frequência o diesel S-10, que tem menor teor de enxofre.
Historicamente, a demanda por veículos pesados diminui após as mudanças de fase do Proconve. Portanto, a Anfavea emitiu uma estimativa conservadora para 2023.
A indústria também está lidando com restrições de produção, devido à escassez de semicondutores e outros componentes, ainda resultantes da pandemia de Covid-19. Espera-se que os suprimentos aumentem em 2023 em relação ao ano passado, mas isso ainda não será uma solução total para o problema, disse a Anfavea. Taxas de juros mais altas, que dificultam o financiamento e afetam a demanda em todos os segmentos de veículos, também são uma preocupação.
Esta mesma questão deve afetar a produção e o registro de implementos rodoviários. A produção em 2023 é estimada em aproximadamente 140.000 unidades, ante quase 154.750 unidades em 2022, segundo a Associação Nacional Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir).
Os efeitos das mudanças de fase do Proconve são sempre incertos, segundo a Anfir, mas a associação espera que a diminuição dos custos de combustível mitigue os aumentos de preço dos caminhões. Além disso, estimativas de uma colheita recorde de grãos no Brasil, uma previsão significativa para a safra de cana-de-açúcar, a retomada do setor de celulose - já que novas plantas de processamento devem começar a operar no país em 2023 - e o aquecimento da construção civil após a pandemia de Covid-19, poderiam compensar essas incertezas.
Quanto à comercialização de veículos, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) estima que as vendas de caminhões ficarão estáveis em 2023, com uma previsão de vendas de 124.500 unidades.
A entidade espera um aumento nas vendas no primeiro semestre do ano, pois pode continuar a vender caminhões que atendam ao padrão de emissões Euro V. Mas os caminhões que atendem à norma Euro VI chegarão em abril. Portanto, as vendas devem diminuir, pois são mais veículos mais caros. Além disso, o Brasil espera um crescimento de renda mais limitado em 2023, por conta das taxas de juros mais altas, o que restringe o crédito para financiamento.

