• 7 de outubro de 2025
  • Mercados: Oil Products

A escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia trouxe novas preocupações para importadores brasileiros de diesel, com a intensificação de ataques a refinarias por drones comprometendo a produção russa e levando participantes do mercado a avaliar alternativas de suprimento.

Mais de 10 refinarias russas foram alvos de ataques por drones ucranianos desde agosto. As unidades atingidas, algumas delas mais de uma vez no período, somam uma capacidade de processamento de 2,3 milhões de b/d de petróleo. Os impactos provocados pela ofensiva e o tempo necessário de paradas não programadas para reparos são incertos.

As movimentações de cargas de combustíveis no modal ferroviário russo diminuíram recentemente. Traders com conhecimento no assunto estimam que unidades com capacidade de processar até 2 milhões de b/d podem ter ficado inoperantes no fim da semana passada. Há relatos de problemas de abastecimento em algumas regiões, em um momento de pico de demanda com a reta final do verão e o avanço das safras no país.

Grandes distribuidores brasileiros tratavam a segunda metade de setembro como uma espécie de marco para a "retomada à normalidade" dos fluxos de derivados russos. Eles apostavam que a conclusão de algumas manutenções programadas em refinarias locais e um arrefecimento na demanda sazonal da Turquia contribuiriam na retomada do protagonismo das cargas russas nos lineups brasileiros.

Com os ataques, porém, operadores viram ofertas de diesel russo praticamente desaparecerem do mercado e os preços dos volumes remanescentes se aproximarem ainda mais dos níveis ofertados por refinadores de outras origens. O benchmark de 5 a 6 centavos de dólar por galão norte-americano (¢/USG) de desconto em relação ao produto do Golfo Americano, usado por muitos como indicativo para a atratividade do diesel russo para importação no mercado, ficou ainda mais distante da realidade.

Os indicadores Argus para cargas de diesel S10 com origem russa para entrega nas regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste encerraram a última semana a descontos médios de 7¢/USG e 6,5¢/USG, respectivamente, em relação aos contratos futuros negociados na New York Mercantile Exchange (Nymex) com vencimento em novembro. No mesmo período, os indicadores para cargas de outras origens fecharam em 7¢/USG para o Norte/Nordeste e em 4¢/USG para o Sul/Sudeste.

"Recall" russo

Vendedores russos estão indicando a possibilidade de não concluírem entregas de cargas já pactuadas, devido a manutenções não programadas em curso no país. Ao menos um cancelamento de acordo envolvendo um grande distribuidor foi reportado à Argus. Houve relatos de tratativas para revisão de negócios celebrados - o que despertou olhares sobre os fluxos de outubro.

O Brasil importou 9,7 milhões de m³ de diesel entre janeiro-julho de 2025, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Deste total, quase 61pc tiveram origem na Rússia. Foram em média 840.671 de m³ de desembarques diesel russo por mês.

O ritmo sofreu uma redução em agosto, quando as importações do combustível fóssil russo somaram 665.771m³ - o equivalente a 51pc do volume total desembarcado no mês. Dados preliminares apontam para uma desaceleração ainda maior, para 394.200 m³ em setembro e 297.500 m³ e outubro, segundo a Vortexa, empresa especializada em dados do setor de energia.

Além dos recentes ataques ucranianos, o setor já monitorava com atenção renovadas ameaças de "sanções secundárias" feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a Rússia e seus parceiros comerciais. Somam-se à lista de componentes de risco associados a Moscou rumores de que o governo local considerava proibir exportações de diesel até o fim do ano, para assegurar o abastecimento doméstico.

Importador busca alternativas

Importadores acreditam que a Rússia levará mais tempo do que o esperado para retomar seus níveis de produção - e assim possivelmente voltar a ofertar cargas nos diferenciais de preços que operadores do mercado se acostumaram a negociar nos últimos anos.

Com isso, a estratégia não apenas de grandes distribuidores, mas também de participantes de menor porte, tem sido manter participação ativa nas rotas do Golfo Americano, da Índia e do Golfo Pérsico.

A expectativa é de que 1,33 milhão de m³ de diesel estrangeiro desembarque nos portos brasileiros em outubro, segundo dados da Vortexa. Deste total, pouco mais de 330.000m³ têm origem nos EUA. Outros 314.000m³ são da Índia e pouco menos de 335.000m³ divididos entre Omã e Emirados Árabes Unidos.

Do lado indiano, um fluxo que ganhou destaque recentemente envolve cargas da Nayara Energy, que detém a refinaria Vadinar, objeto de sanções da União Europeia por conta de supostos vínculos com a estatal russa Rosneft.

Author name: Marcos Mortari, Argus Brazil Motorfuels, Oil Products

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