RG: Olá e bem-vindos ao Falando de Mercado. Esta é uma série de podcasts semanais da Argus Media sobre setores de commodities de energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Rebecca Gompertz. Eu sou especialista de biometano da publicação Argus Brazil Gas Markets.
MLB: E eu sou Maria Lígia Barros, especialista de etanol da publicação Argus Brasil Combustíveis. No episódio de hoje a gente vai conversar sobre o crescimento do biometano como aposta do setor sucroalcooleiro do Brasil.
É que o biometano pode ser produzido a partir de resíduos da produção de etanol, como vinhaça, palha, torta de filtro e pontas. Tem empresa que já faz isso, inclusive, como Raízen, Cocal, fora as outras que têm projetos anunciados, como São Martinho e BP.
RG: A Argus fez um levantamento a partir dos dados da ANP e constatou que o setor sucroenergético deve responder por 30pc da capacidade de produção de biometano do Brasil em 2027.
Hoje no Brasil, a gente tem 11 plantas de biometano em operação, sendo que só quatro usam resíduos de etanol. O restante está utilizando o biogás de aterro como uma matéria-prima. Em dois anos o número de usinas ligadas ao setor de açúcar e etanol e e autorizadas a comercializar bioetano deve chegar a 12. Essa expansão corresponde a uma capacidade de produção de pelo menos 625 mil metros cúbicos por dia de biometano.
MLB: Mas essas 12 são só as que têm autorização da ANP para comercializar biometano. Tem outras que não entram nessa conta, que estão investindo na autoprodução. Elas fazem biometano para consumo próprio, para substituir o diesel da frota.
MLB: A gente conversou com Luciano Rodrigues, diretor de inteligência setorial da UNICA, e ele contou um case interessante do setor.
LR: Nós temos empresas que já substituíram 1 milhão de litros de diesel por biometano em uma única planta industrial, testando o uso em caminhões, o uso em tratores.
MLB: Só que o potencial de produção de biometano é no geral superior à demanda interna das usinas.
LR: Se você exaurir ao máximo o potencial de vinhaça e torta de filtro, se você conseguir produzir o máximo de biometano possível com esses subprodutos, não dá pra usar todo esse biometano só na frota interna. Então eu vou necessariamente ter que comercializar uma parte dele pra fora.
RG: Luciano também contou para a gente que ele vê as duas rotas se desenvolvendo ao mesmo tempo. Do lado da autoprodução, tem os investimentos internos nos equipamentos e na adaptação para o uso do biometano na frota. E do lado da comercialização, ele está destacando a regulamentação da Lei Combustível do Futuro como um fator que vai impulsionar as vendas
MLB: Só para a gente relembrar, a Lei Combustível do Futuro foi aprovada no ano passado e institui o início de mandato obrigatório de mistura de biometano a partir de 2026.
Dentro desse mandato, os produtores e importadores de gás vão ter a obrigação de comprar uma determinada quantidade de biometano todo ano.
O mandato também cria os CGOBs — Certificados de Garantia de Origem do Biometano. Os CGOBs vão representar a parte verde da molécula para que ela possa ser vendida sem necessidade de entrega física do gás.
RG: Mas o transporte de biometano é um desafio muito grande para a expansão desse mercado. Várias usinas dependem de caminhões de gás natural comprimido (GNC) para transportar o produto. Isso torna diversos negócios inviáveis por conta da distância.
Em São Paulo, que é o principal estado sucroalcooleiro do Brasil, a proximidade das usinas de etanol aos gasodutos representa uma oportunidade para o crescimento do biometano na região. No Nordeste também, já que as usinas de etanol e os gasodutos se concentram na costa.
MLB: Mas tem um ponto que tem gerado dúvidas no mercado, que é sobre a geração de créditos de descarbonização, os CBIOs. Tanto etanol quanto biometano são elegíveis para gerar CBIOs quando as produções são vendidas. Só que com a criação do CGOB, fica no ar uma dúvida sobre como isso vai funcionar.
Os produtores são a favor de que um mesmo metro cúbico gere os dois créditos. Já os compradores se preocupam com as incertezas causadas por essa dupla geração.
De qualquer forma, a ANP vai precisar regular esse tema ainda neste ano, antes que o mandato de biometano se inicie, em 2026.
RG: Esse assunto da interação entre o setor sucroenergético e os produtores de biometano ainda vai trazer muitas discussões para esses mercados.
A Argus vai continuar acompanhando e trazendo as novidades para vocês.
Os episódios do nosso podcast em português estão disponíveis em argusmedia.com
Ouça os nossos conteúdos sobre os acontecimentos que movem os mercados globais de commodities, com impactos no Brasil e na América Latina.
A gente volta em breve com mais uma edição do Falando de Mercado. Até logo!
MLB: Tchau, tchau.