Gabrielle Moreira: Olá, pessoal! Sejam bem-vindos ao Falando de Mercado, uma série de podcast semanais sobre os principais acontecimentos nos setores de commodities e energia no Brasil e no mundo.
Eu sou Gabrielle Moreira, editora da publicação Argus Brasil Combustíveis. E o assunto de hoje é o mercado de etanol em Goiás e as transformações com a expansão do etanol de milho no Centro-Oeste. Para falar sobre o tema, estou com as especialistas Maria Carolina Albuquerque e Maria Lígia Barros.
Maria Albuquerque: Olá, eu sou a Maria!
Maria Lígia Barros: E eu sou Lígia! E é um prazer estar aqui em mais uma edição do Falando de Mercado.
GM: Maria, para começarmos, o que caracteriza o mercado de etanol em Goiás hoje?
MA: Goiás é um dos principais produtores de etanol do Brasil. É o terceiro maior produtor nacional, atrás apenas de São Paulo e Mato Grosso, e é um estado superavitário na produção do biocombustível, ou seja, ele produz mais do que consome internamente. Isso ocorre principalmente por conta de benefícios fiscais no estado para a instalação de usinas de etanol, devido a alguns descontos que o governo do estado concede. Descontos de ICMS em determinadas operações de etanol para fomentar a indústria local. Na safra passada, 2024-25, Goiás foi responsável por 15pc da produção nacional, segundo os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), totalizando aproximadamente 5,7 milhões de m³. Desse volume, cerca de 14pc foi etanol de milho e 86pc etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. Já agora, pra safra atual de 2025-26, as estimativas da Conab apontam para uma produção de 5,6 milhões de m³.
GM: E, Lígia, no lado da demanda, tem algum fator que contribua para esse superávit de produto?
MLB: Sim, Gabi. Goiás é um estado que tem um consumo interno com bastante volatilidade. A paridade de preços, que é a relação de preços entre a gasolina e o etanol, flutua muito mais do que em outros estados. É como se o preço do etanol em Goiás fosse mais sensível a flutuações de mercado e rapidamente são repassados para a bomba. É o que a gente escuta dos participantes do mercado com quem a gente conversa. E o consumidor local também tende a seguir as mudanças de paridade de forma mais imediata. A gente sabe que vale a pena abastecer com etanol quando essa paridade está abaixo dos 70pc, ou seja, quando o etanol vale até 70pc do preço da gasolina. E a paridade em Goiás variou entre 66,2pc-73pc entre a primeira semana de janeiro e a primeira semana de setembro, segundo a ANP. É muito mais volátil do que a paridade nacional, por exemplo, que flutuou entre 66,7pc-69,2pc ao longo deste ano. São Paulo, por exemplo, que tem um padrão de consumo mais estável, foi de 65,1pc-67,8pc.
E o resultado disso em Goiás é uma demanda interna, por etanol hidratado, mais instável, e isso é um dos fatores que contribui para essa sobreoferta de produto e é um dos pontos que vocaciona o estado para ser importante fornecedor de etanol para outras regiões. A gente vê Goiás enviando o produto para tanto os estados do Centro-Sul quanto os do Nordeste, quando lá está em entressafra.
GM: E qual que é o panorama das usinas em Goiás atualmente?
MA: Hoje, no estado, existem 44 usinas que são autorizados a produzir etanol pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, ANP. Dessas usinas, 37 produzem o biocombustível a partir da cana-de-açúcar, três delas produzem a partir do milho, e quatro conseguem produzir a partir dos dois insumos, que é o que a gente chama de usinas flex. Além disso, existem mais cinco usinas que estão em processo de autorização pela ANP para conseguir ampliar suas operações e outros produtores importantes do mercado anunciaram investimentos recentes no estado, que mostra esse interesse em investir na região. A Inpasa, grande produtora de etanol de milho, anunciou no final de outubro que vai construir a sua primeira usina no estado de Goiás, na cidade de Rio Verde. Os investimentos da empresa são estimados em R$2,4 bilhões, e eles devem ter uma produção aproximada de 1 milhão de m³ por ano, com conclusão prevista para o primeiro trimestre de 2027. Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também aprovou um financiamento de R$625 milhões para a produtora São Martinho construir uma nova usina de etanol de milho no complexo industrial de Quirinópolis. Também, o banco aprovou um financiamento de R$300 milhões para a Cerradinho, outra produtora de etanol, para ampliar em até 30pc a planta de etanol de milho em Chapadão do Céu. E o grupo SADA, que possui usinas de etanol e parte de distribuição, também vai investir R$1,1 bilhão para que as 12 usinas, que produzem já o etanol a partir da cana-de-açúcar, também possam produzir o biocombustível a partir do milho em usinas de Goiás e Minas Gerais. E para acompanhar ainda mais esse mercado que está em expansão e tem uma importância nacional para o mercado de etanol, nós lançamos, no final de outubro, três indicadores em Goiás para acompanhar as movimentações de etanol hidratado e anidro. Esses indicadores são dois de hidratado, que analisam as movimentações intraestadual e interestadual, já que tem as diferenças de ICMS, e um indicador de anidro para dentro e fora do estado.
GM: Legal, dá pra ver que o etanol de milho tenha ajudado a impulsionar o volume produzido em Goiás. E vocês acham que é um movimento isolado do estado de Goiás ou se trata de uma tendência geral do mercado?
MLB: É geral, Gabi. O etanol de milho vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. A primeira planta a base de milho foi inaugurada em 2017. E, desde lá, houve um crescimento impressionante. Na safra de 2024-25, a produção do etanol de milho cresceu 22pc, segundo a Conab. E para essa safra corrente de 2025-26, o crescimento está estimado em 21pc. Quando olhamos mais adiante, as projeções mostram que essa participação do etanol de milho pode igualar em menos de dez anos a produção a partir da cana até o ciclo de 2023-24. Esse crescimento do etanol de milho ocorre principalmente no Centro-Oeste, que concentra a produção de milho no Brasil hoje, mas não se limita só a essa região. Neste ano, a Inpasa inaugurou na cidade de Balsas, no Maranhão, uma usina de etanol de milho, e a empresa também tem em construção outra planta na Bahia, fora as usinas flex que já existem no Nordeste também.
GM: Obrigada, Maria, obrigada Lígia, obrigada a vocês por acompanharem mais um episódio de falando de mercado. Nós voltamos a semana que vem com mais discussões sobre os mercados de commodities e energia no Brasil e do exterior.