

Vetores do mercado de fertilizantes
Mercado de fertilizantes no Brasil muda com importações de menor concentração, desafios de crédito e estratégias para reduzir custos.
- 8 de dezembro de 2025
- Market: Fertilizers
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Bruno Castro: O mercado de fertilizantes no Brasil vive um momento de inflexão, com as novas dinâmicas geopolíticas e ambientais redesenhando as cadeias de suprimento desses insumos que são tão vitais para a produção agrícola nacional. Entre fertilizantes de baixa concentração ganhando espaço no mercado e os altos custos de produção para os agricultores, o Brasil, que é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, registra crescimento na entrada desses produtos em 2025.
Eu sou Bruno Castro, especialista em adubos do time da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, e meu convidado para falar sobre a dinâmica atual do mercado é Aluísio Teixeira, o diretor-presidente do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Paraná, o Sindiadubos.
Seja muito bem-vindo, Aluísio, é um prazer recebê-lo. E para começar o nosso bate-papo, eu gostaria de ir direto ao ponto. O que a gente pode esperar em relação à entrada de fertilizantes no Brasil nesse ano e quais são as novidades em comparação com anos anteriores?
Aluísio Teixeira: Já entrando direto na resposta, eu vou te dizer o seguinte, esse ano teve uma mudança significativa: Brasil importou fertilizantes com concentrações mais baixas, basicamente esses produtos vieram da China. O que é uma concentração mais baixa? Você troca uma importação de ureia, que tem 46pc de nitrogênio, por uma de sulfato de amônio que tem 21pc. Então, o Brasil acabou fazendo isso.
A mesma coisa com o MAP, que tem uma concentração de fósforo, por exemplo, de 52pc e um super simples ou mineral complexo tem 19pc e 20pc. Isso gerou algumas consequências. Eu tenho plena convicção que o Brasil vai fazer uma entrega maior de fertilizantes esse ano como um todo.
Ano passado entregamos algo como 45,6 milhões de toneladas, esse ano provavelmente vamos entregar um pouco mais, ao redor de 48 milhões de toneladas. Mas o valor de nutrientes que nós vamos entregar ainda gera um pouco de dúvida. A minha opinião particular é que o Brasil vai entregar um pouquinho menos de nutrientes na conta final do ano, isso devido ao problema que temos de crédito no agro, que tomou conta do agro.
Então, no finalzinho da safra a gente teve algumas dificuldades. Pode ser que o Brasil entregue mais fertilizantes, mas no cômputo geral um pouquinho menos de nutrientes para o campo.
BC: A entrega de fertilizantes nesse ano foi um dos tópicos debatidos na 19ª edição do simpósio NPK, do Sindiadubos, em Curitiba. Eu tive o prazer de estar lá e conversar com muitos participantes do mercado. E Aluísio, eu gostaria de saber quais são as tendências para o mercado em 2026 que foram apontadas durante o evento e se essa tendência de substituição pelos fertilizantes de baixa concentração, por exemplo, deve ser mantida em 2026.
AT: Bruno, eu acredito que sim, isso basicamente depende do produtor chinês. Eu acredito que vai continuar vindo produto de baixa concentração, mesmo porque o chinês está aumentando a produção, por exemplo, de sulfato de amônio, a gente sabe. Acredito que a tendência deva continuar.
Porém, o que a gente nunca consegue enxergar com claridade é o governo chinês. Eventualmente, em alguns momentos, ele entra com uma proibição de exportação, é muito preocupado com o seu mercado local. Então, esse ano o Brasil foi salvo, por exemplo, com produtos que não estavam na proibição, como é o caso do NP 8-40.
Esse produto não estava na proibição e para o Brasil veio muito desse produto. Já o MAP/DAP, que estava na proibição do governo chinês, veio muito pouco produto. Eu acho que a gente tem uma tendência de continuar recebendo grandes volumes.
Geralmente, isso aí começa a ficar mais claro a partir de março, abril... essa visão nossa sobre se vai vir bastante produto ou menos.
BC: Você falou sobre o NP 8-40 e com relação à entrada de fertilizantes com menor solubilidade no mercado brasileiro, essa é uma tendência que a gente deve observar novamente em 2026?
AT: Olha Bruno, esse é um assunto que tem tido muita polêmica. Existem muitos interesses por trás desse assunto. Então, é claro, o agricultor brasileiro pagou, por exemplo, 100 dólares a menos que o indiano esse ano no MAP/DAP, por exemplo.
É claro que os produtores de MAP/DAP têm um interesse em que não venha esse produto para o Brasil. Com relação à capacidade de produção agrícola, existe muita controvérsia. Existe quem defenda uma solubilidade menor para que o produto não tenha uma grande adsorção inicial.
Então, quando você põe muita disponibilidade de fósforo, acaba tendo parte dele sendo adsorvido e imobilizado no solo. Tem muitos pesquisadores que dizem até que a questão de solubilidade menor seria interessante. Mas isso é uma controvérsia.
Mas eu acho o seguinte, em resumo de história, nós vamos analisar o que vai acontecer com a produção do Brasil esse ano. Se nós tivermos uma safra boa, claro, que não tenha problema climático, é sinal que o produto funcionou bem e não teve problema nenhum. Por que eu digo isso?
Porque a primeira safra foi safra recorde. Essa safra recorde que nós tivemos, que foi colhida em janeiro desse ano, ela retirou todo o nutriente do solo. Nós tivemos duas safras recordes seguidas, que foi safra e safrinha.
Os nutrientes estavam esgotados do solo. Então, esse ano, se a gente tiver uma safra boa, quer dizer que o resultado disso aí é que não teve nenhum impacto no fertilizante, uma solubilidade um pouco menor. Mas as pesquisas verdadeiras e reais vão vir ao longo do tempo para se avaliar isso com mais clareza.
Mas, independente de qualquer situação, isso ajudou o agricultor brasileiro a pagar preços menores. Porque uma coisa é você pagar um valor bem mais alto por um produto com solubilidade muito alta e você ter um competidor que consiga reduzir os preços.
A gente espera que o ano que vem continuem vindo e a gente acha, sinceramente, que a produção do Brasil vai ser grande, vai ser uma produção muito significativa, porque isso não vai ser um fator de influência no resultado.
BC: Além desses tópicos, quais discussões no evento você destacaria?
AT: Olha, também foi discutido a questão da inadimplência. Isso também afetou um pouquinho aí no final, né? Foi discutido na última reunião.
Eu acho que esses três itens são muito importantes para o ano que vem. E aí, a gente vai ter que aguardar a dinâmica do mercado como um todo para saber como é que vai ser o ano para o agricultor. A gente enxerga já claramente uma redução nas margens.
Claro que as margens também estão relacionadas ao preço de venda da soja. Recentemente tivemos uma alta aí que ajuda bastante. Mas, como um todo, a gente enxerga uma redução de margem do agricultor.
Por isso que é muito importante que a gente consiga entregar o adubo com frete menor, que a gente consiga trazer adubos de condição de preço melhor para o agricultor. Esses são os fatores que a gente enxerga que vão balizar o ano que vem.
BC: Obrigado, Aluísio.
AT: Obrigado, Bruno. Um abraço, estamos à disposição.
BC: Obrigado aos nossos ouvintes. Voltaremos na semana que vem com mais um episódio do Falando de Mercado. Até lá.


