• 9 de junho de 2025
  • Market: Crude
O crescimento e os desafios na produção de petróleo em Vaca Muerta, o aumento da produção no Brasil e o leilão de óleo do pré-sal pela PPSA foram alguns dos temas mais quentes da Argus Rio Crude Conference, realizada em maio. João Scheller, responsável pela cobertura dos mercados de petróleo na Argentina, Colômbia, Ecuador e Guiana traz os destaques da conferência nesta conversa com Camila Fontana, chefe adjunta de redação da Argus no Brasil. Acompanhe!

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Camila Fontana: Oi pessoal, estamos de volta com Falando de Mercado, podcast semanal da Argus sobre os setores de commodities e energia. Eu sou Camila Fontana, chefe adjunta de redação da Argus no Brasil e hoje eu converso de novo com o João Scheller, responsável pela cobertura de mercado de petróleo na Colômbia, Equador, Argentina e Guiana.

O João esteve na Argus Rio Crude Conference realizada no final de maio no Copacabana Palace e vai contar para a gente as principais novidades do evento como avanços em Vaca Muerta na Argentina e aumento de produção aqui no Brasil. João, quais foram os principais pontos discutidos durante o evento? 

João Scheller: Camila, primeiramente obrigado por me receber aqui. Teve vários temas abordados no evento, mas nesse episódio eu acho que vamos focar mais em dois pontos.

Primeiramente na produção e no crescimento da produção em Vaca Muerta na Argentina, além dos desafios obviamente que todo esse crescimento traz, e também do crescimento de produção aqui no Brasil e o leilão da PPSA que vai acontecer em breve.

CF: Começando pela Argentina, temos visto um crescimento, movimentação em torno do desenvolvimento de Vaca Muerta. Quais tópicos específicos chamaram mais atenção na Rio Crude Conference? 

JS: Eu acho que podemos começar falando um pouco sobre o crescimento geral de Vaca Muerta.

Nós temos previsão de investimento para 2025 por volta do mesmo patamar de 2024, que foi cerca de US$ 10bn. É um valor alto e que tem mostrado um crescimento de investimento na região. O foco atualmente na produção argentina é na produção não convencional, em inglês “shale oil”, e que é majoritariamente..

CF: Xisto.

JS: Exatamente, o óleo de xisto, que é majoritariamente a região de Vaca Muerta.

Temos, inclusive, a YPF, que é estatal argentina, com o foco completamente voltado agora para Vaca Muerta. Eles estão se desfazendo dos ativos que eles têm em outras regiões da Argentina para focar no crescimento e no desenvolvimento da região de Vaca Muerta, desse tipo de óleo de xisto não convencional. 

Também temos tido o avanço governamental com reformas econômicas que têm sido desenhadas para atrair investimentos para a região e isso tem levado a um crescimento de produção que já pode ser visto.

Em 2024, tivemos um número recorde, 717.000 barris por dia produzidos em 2024, e a expectativa de que se chegue até 1,5 milhão de barris por dia num pico em 2030. Tem um cenário de otimismo muito grande dos produtores argentinos com relação à Vaca Muerta. 

CF: Como nem tudo são flores, o que temos de desafios em Vaca Muerta? 

JS: Claro. Acho que primeiramente podemos mencionar os problemas ou os gargalos com relação à infraestrutura. Estamos tendo melhorias sendo feitas. Na verdade, elas já foram basicamente concluídas, as reformas no Porto de Rosales, que é o principal porto atualmente para a exportação do óleo Medanito, que é produzido em Vaca Muerta.

Então, petróleo Medanito. Acontece que, o que tínhamos escutado dos produtores é que alguns outros trabalhos ainda vão ter que ser feitos para que se chegue ao cenário ideal em Porto de Rosales, que além de tudo, mesmo com todos os investimentos, ainda não é um cenário ideal.

Explico isso rapidamente. Basicamente, o problema atualmente da Argentina é conseguir carregar navios grandes o suficiente para fazer com que esse óleo seja economicamente competitivo com outros óleos ao redor do mundo.

Porto de Rosales atualmente pode carregar Aframaxes e a ideia é que eles consigam carregar navios do tipo Suezmax, só que somente parcialmente, por conta de restrições de calado. O trabalho em Porto de Rosales é permitir que se consiga carregar navios um pouco maiores do que atualmente.

E, eventualmente, há também a expectativa de que se consiga carregar, de fato, VLCCs, que são basicamente os maiores navios e que conseguem levar petróleo de forma economicamente competitiva para mercados como, por exemplo, a Ásia, que é um mercado que os produtores argentinos acreditam que pode ser explorado por eles.

Basicamente, esses gargalos, tanto com relação a, enfim, o fim das reformas em Porto de Rosales, mas também esse novo oleoduto Vaca Muerta Sul, que vai permitir que se carregue as navios maiores, tem-se no ar uma visão de que talvez vai atrasar também.

Acho que, apesar dessa expectativa de que ocorra um crescimento muito grande de produção em Vaca Muerta, esses pontos ficam em aberto e acabam trazendo um pouco de ceticismo, eu diria, ou até mesmo mesmo um pé atrás com relação a um avanço por lá. 

E para além disso, tem a questão do preço do barril do petróleo. Atualmente está muito próximo de US$ 60 por barril.

Isso é um desafio, porque pelo que os produtores têm contado para a gente, o preço do break-even do Medanito é por volta de US$ 40 a US$ 60 por barril, a depender, enfim, da situação da região, da empresa. Então, com um barril de petróleo próximo de US$ 60, temos desafios com relação à viabilidade econômica. Isso pode eventualmente, por exemplo, levar a desaceleração por exemplo, em investimentos, o que, obviamente, não é positivo em termos de crescimento.

Apesar de termos esse lado de otimismo e um otimismo que, de fato, vem sido corroborado com crescimento na região, também temos esse outro lado que são os problemas com relação à infraestrutura e os desafios, caso o barril do petróleo continue no preço que ele tem estado desde abril. 

CF: Passando da Argentina para o Brasil, qual foi o foco das discussões durante a conferência?

JS: Bom, Camila, Brasil, acho que podemos mencionar o crescimento de produção em geral, assim, o Brasil tem sido um dos países que vêm puxando o crescimento de produção de petróleo na América Latina, junto com a Argentina, não é à toa que estamos falando desses dois países, além da Guiana, que também tem crescido muito. Então, o otimismo em geral com relação ao crescimento de produção brasileira foi um destaque na Rio Crude. Tivemos, por exemplo, só para dar números, em março agora, a produção brasileira foi de 3,6mn de barris por dia, que é um aumento de 8% com relação ao ano passado. A maior parte disso vem de campos do Pré-Sal. 

Nós temos um otimismo com relação a novos campos. Por exemplo, a Shell recentemente anunciou que vai participar de um investimento no campo de Gato do Mato. Temos o petróleo do campo de Bacalhau que logo mais vai começar a ser vendido, comercializado. Então, temos um otimismo com relação um crescimento do Brasil. E obviamente, isso traz discussões com relação a novos projetos de portos, novos mercados que podem ser explorados, a novas empresas participantes e o crescimento delas com relação à produção.

Acho que é um otimismo geral em relação ao Brasil que não tem tantos gagalos aparentemente com relação aos projetos na Argentina. Além disso, acho que vale mencionar também que alguns players têm sido bem incisivos com relação ao crescimento de exploração em novos campos, em novas fronteiras de exploração, como, por exemplo, a Foz do Rio Amazonas, que é uma área que pode trazer uma produção maior de petróleo, mais barris.

Espera-se que o pico do petróleo de produção brasileira atualmente, considerando os projetos que temos agora seja em 2030. Então, a exploração na Foz do Amazonas poderia trazer mais óleo e um crescimento de produção para além do pico que é esperado atualmente.

CF: Você deu um panorama bem geral do que está sendo discutido na indústria de petróleo do Brasil como um todo, mas acho que vale a pena falarmos um pouquinho do leilão da PPSA, que está por vir. Você poderia falar o que está em jogo nesse leilão? 

JS: Claro, com certeza. Acho que o ponto principal do leilão da PPSA é que é o maior leilão que a PPSA já fez. Também bom lembrar que a PPSA é empresa que comercializa os barris que são da União em projeto do pré-sal. Então, basicamente, a União tem uma participação nesses projetos e a PPSA é que faz de fato a venda, a comercialização deles. A PPSA vai leiloar 78,5 mn de barris no próximo dia 26 de junho.

No momento que estamos gravando esse podcast, o leilão ainda não aconteceu, mas há uma expectativa muito grande, porque é um volume muito grande de petróleo, especialmente petróleo do tipo Mero, a maior parte, 60 mn de barris são de Mero, teremos outros lotes de Sépia, Itapu e também do óleo de Búzios. E como é o maior leilão da PPSA, temos um otimismo muito grande dos participantes com relação, primeiro aos lotes, a compra desses lotes, mas também o que há para vir nos próximos anos com aumento de produção.

PPSA deve começar começar a ter um uma relevância ainda maior em termos de tamanho de produção. A conversa com relação ao Brasil diz respeito muito ao aumento de produção e como esse aumento de produção vai colocar o Brasil cada vez mais em visibilidade em relação ao comércio de petróleo no mundo todo.

CF: Muito bom. Muito obrigada, João, por estar aqui mais uma vez no Falando de Mercado. Agradeço também aos nossos ouvintes.

Lembrando que a Argus vai continuar trazendo para vocês novidades sobre o mercado de petróleo na América Latina, no mundo todo com regularidade. João Scheller volta em breve e este os demais episódios do nosso podcast estão disponíveis no site argusmedia.com. Até mais, pessoal.