Camila Fontana: Olá pessoal, sejam bem-vindos ao Falando de Mercado, a série de podcasts semanais da Argus sobre os setores de commodities e energia. Eu sou Camila Fontana, chefe adjunta da redação da Argus no Brasil e o tema de hoje é o crescimento das exportações de açúcar na safra 2025-26 com a convidada Maria Carolina Albuquerque, especialista da publicação Argus Brasil Combustíveis.
Maria, a exportação dessa safra será maior do que no ciclo 24-25. Explica esse movimento pra gente.
Maria Carolina Albuquerque: Oi Camila, as exportações de açúcar do Brasil podem chegar até 35,8 milhões de toneladas na safra 2526, de acordo com projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Isso representaria um aumento de 6,8pc mais ou menos em comparação com as 33,5 milhões de toneladas exportadas na safra anterior, segundo os dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil, o MDIC.
Essa projeção maior é sustentada por um aumento esperado na produção de açúcar nessa safra, que pode alcançar até 45,9 milhões de toneladas, que seria um crescimento de 4pc em comparação com a safra anterior. Apesar das estimativas para a mogem de cana-de-açúcar estarem menores em comparação com o ciclo anterior, o mix sucroenergético deve ser mais favorável para o açúcar, segundo os participantes de mercado. Isso porque os preços do açúcar no mercado internacional estão um pouco mais competitivos do que os preços do etanol no mercado doméstico, que é a outra commodity que compete com a produção de açúcar nas usinas do Brasil.
Além disso, as usinas aumentaram muito seus investimentos em capacidade de cristalização de açúcar nos últimos anos, e os participantes esperam que nessa safra isso seja refletido, já que na safra anterior, 24-25, não foi possível por conta de vários eventos climáticos extremos que ocorreram.
CF: E o perfil das exportações vai ser o mesmo do ano passado ou você percebe alguma mudança nesse sentido?
MCA: A expectativa para a safra 25-26 é que o pico das exportações seja mais concentrado no segundo semestre deste ano e no período de entressafra, que é entre dezembro e março, mais ou menos, do próximo ano. Isso é um pouco diferente do que ocorreu na safra 24-25, quando as exportações tiveram um pico maior no início da safra até o início do segundo semestre.
Isso deve ocorrer porque o volume de cana disponível agora no início dessa safra deve ser menor em relação a 24-25, já que a quantidade de cana bisada, que é aquela cana que sobra no período da safra anterior, para ser colhida na próxima, é bem menor, por conta, como eu comentei, dos climas extremos que ocorreram no ano passado. Teve a questão das queimadas, que atingiram mais de 180 mil hectares de cana-de-açúcar e áreas de rebrota na região Centro-Sul, principalmente em São Paulo, que é o maior produtor de açúcar, e o ano passado sofreu com um clima extremamente quente na maior parte da safra, o que afetou um pouco a qualidade da cana e diminuiu a quantidade de cana que sobra de uma safra para outra.
Além disso, a safra 25-26 teve um início mais lento da moagem por conta de um volume maior de chuvas que ocorreram em abril e no comecinho de maio, então atrapalhou a moagem, os trabalhos de campo e, consequentemente, a produção de açúcar.
CF: Eu queria discutir os dados oficiais do MDIC, que é o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Qual é a tendência das exportações dessa safra até o momento?
MCA: As exportações de açúcar do Brasil registradas nessa safra, que começou em abril, então de abril a maio, teve uma queda de 18pc em comparação com os mesmos dois meses do ano passado, segundo esses dados do MDIC. Entre abril e maio, o Brasil exportou cerca de 3,4 milhões de toneladas de açúcar, em comparação com 4,1 milhões de toneladas entre abril e maio de 2024.
CF: Maria, no cenário global, a gente vê um superávit na produção de açúcar na safra 25-26. Qual é o balanço entre oferta e demanda, considerando os principais players globais?
MCA: O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos aponta para uma alta na produção global de açúcar de 4,7pc para 189,4 milhões de toneladas de açúcar. Isso é influenciado principalmente por esse aumento na produção do Brasil, que comentamos, que é o maior produtor de açúcar do mundo, e pela produção da Índia, o segundo maior produtor. Com isso, o superávit global está previsto em 11,4 milhões de toneladas de açúcar em 25-26. Esse aumento não deve ser acompanhado pelo consumo, que está estimado em 177,9 milhões de toneladas. É uma alta de 1,4pc em comparação com a safra anterior, porém ainda está significativamente abaixo da oferta mundial projetada até o momento.
CF: Com esse excedente de oferta causado pela safra abundante, qual é a perspectiva para os preços?
MCA: Até o momento, o cenário de preços do açúcar no mercado global é um pouco pessimista por conta desse superávit na produção. Obviamente, tudo vai depender do andamento da safra de cana do Brasil, que é um dos principais fatores que afeta a produção global e a tendência de preços, e da safra da Índia, como ela vai se comportar também nesse período. Porém, é esperado uma queda nos preços em comparação com a safra anterior por conta dessa maior oferta.
Para usarmos de referência, o preço do contrato futuro de açúcar número 11 da bolsa de Nova York, que é a referência mundial da commodity, com vencimento em julho de 2025, fechou em 10 de junho em 16,48 centavos de dólar por libra-peso. Isso é uma queda de 8,8pc em comparação com o mesmo dia no ano anterior.
CF: Muito obrigada, Maria. A Argus vai continuar acompanhando os desdobramentos no complexo sucroalcooleiro e você certamente vai voltar ao Falando de Mercado aqui para compartilhar as atualizações com os nossos ouvintes.
Obrigada a você que prestigiou o nosso podcast. Os demais episódios do Falando de Mercado estão disponíveis no site argusmedia.com e nas principais plataformas de streaming.
A gente volta em breve com mais uma edição. Até mais!