RC: Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’ – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Renata Cardarelli, editora da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, e no episódio de hoje, converso com Nathalia Giannetti, repórter da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, sobre o lançamento dos preços de diferenciais portuários de milho nos portos de Barcarena e Itaqui.
Esses indicadores são publicados diariamente no relatório Argus AgriMarkets, que traz o acompanhamento dos mercados de grãos, oleaginosas e óleos vegetais. Projeções e balanços de oferta e demanda sobre esses mercados estão disponíveis no AgriMarkets Outlook com edições semanais e mensais.
Para começarmos, Nathalia, por que o acompanhamento dos preços de diferenciais portuários nos portos de Barcarena e Itaqui é importante? Seja bem-vinda!
NG: Obrigada, Renata, é um prazer estar aqui. Respondendo à pergunta, o Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo e o segundo maior exportador. Como o Brasil representa uma parcela importante do mercado internacional de milho, a Argus publica desde 2020 preços do cargo market de Santos/Tubarão. O porto de Santos é o maior do Brasil e respondia por metade dos volumes exportados nacionalmente na época.
Mas, nos últimos anos, a região conhecida como Arco Norte cresceu exponencialmente e embarca mais milho que Santos desde 2022. O Arco Norte é abrange portos ou pontos de transbordo nos estados de Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Maranhão. Os maiores portos do Arco Norte são os portos de Itaqui, no Maranhão, e de Barcarena, no Pará. Somente Itaqui e Barcarena respondem juntos por mais da metade dos embarques de milho do Arco Norte.
Santos, Barcarena e Itaqui somam aproximadamente 60pc das exportações brasileiras de milho. Assim, o acompanhamento desses diferenciais portuários traz uma visão mais completa das negociações que ocorrem no mercado brasileiro para exportação.
A Argus publica preços para os vencimentos de julho a janeiro em Santos/Tubarão, que correspondem à janela de exportação de milho. Para Barcarena/Itaqui, os preços são publicados em referência aos meses de agosto e setembro, que representam o pico da temporada de exportação.
RC: Qual é o motivo do crescimento da participação dos portos do Arco Norte no cenário nacional?
NG: Uma grande vantagem dos portos do Arco Norte é a proximidade em relação ao Centro-Oeste brasileiro -o maior polo produtor do país e região que abriga o estado de Mato Grosso.
Mato Grosso é o maior produtor de milho do país, respondendo por aproximadamente 38pc da safra nacional, em média, nos últimos cinco anos.
Essa proximidade entre os portos do Arco Norte e importantes regiões agrícolas reduz bastante o tempo de escoamento e custo logístico do transporte de cargas para exportação.
RC: Existe alguma vantagem também em relação à distância entre os portos do Arco Norte e países que importam o milho do Brasil?
NG: Com certeza, Renata. A localização também é estratégica para embarcar milho para Europa e África. Países desses dois continentes são uma parcela importante dos compradores de milho brasileiro. Espanha, Argélia, Egito e Marrocos estão entre esses grandes importadores.
Em 2024, o Egito recebeu 14pc dos embarques brasileiros de milho, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Isso equivale a um recorde de 5,3 milhões de toneladas (t), tornando o Egito o país com maior participação nos embarques no ano. Os portos de Itaqui e Barcarena responderam por mais de 65pc dos volumes enviados ao Egito no ano passado.
RC: Interessante, Nathalia! Imagino que o porto de Santos, que você mencionou anteriormente, também tem algumas vantagens para compradores globais.
NG: Exatamente, Renata. É importante reforçar que o porto de Santos é o maior do Brasil e já chegou a responder por metade dos volumes de milho exportados nacionalmente. Atualmente, sua participação caiu para ao menos 37pc no ano. Santos perdeu participação de mercado, mas continua sendo o porto com maior participação nos embarques nacionais – uma vez que os portos do Arco Norte consistem em quatro principais portos para a exportação de milho.
O porto de Santos está localizado na região Sudeste do Brasil, que divide fronteiras com o Centro-Oeste. Então, essa proximidade com o maior polo produtor do grão é um fator determinante para a relevância de Santos. Além disso, os portos localizados nas regiões Sudeste e Sul do país são a melhor opção para embarques com destino a Ásia, devido ao trajeto marítimo mais curto com destino ao continente asiático.
China, Vietnã, Irã, Japão e Coreia do Sul estão entre os principais compradores de milho brasileiro. Juntos, esses países respondem por uma média de 46pc dos volumes adquiridos pelo mercado internacional anualmente desde 2022.
RC: E a China entrou nesse ranking apenas recentemente, certo?
NG: Isso mesmo, Renata. Em 2022, China e Brasil assinaram um acordo sanitário que autorizava os embarques de milho para compradores chineses. A China passou de nenhuma participação em 2022 para 31pc das exportações em 2023, mas caiu para apenas 6pc em 2024.
RC: O que deve acontecer em 2025? A China voltará a consumir mais milho do Brasil?
NG: É difícil saber qual será a preferência da China. Mas alguns participantes de mercado esperam que os embarques se intensifiquem com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o que pode estremecer as relações comerciais entre Estados Unidos e China. O Brasil seria a principal alternativa para aquisições de milho, além da Argentina.
RC: Quais são as perspectivas em termos de volumes exportados pelo Brasil?
NG: Então, Renata, o Brasil deve exportar menos milho nesta safra do que na temporada 2023-24, apesar de projeções de uma produção maior. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o Brasil deve produzir 94,6 milhões de toneladas na segunda safra de milho 2024-25. Lembrando que a segunda safra de milho é a maior das três safras brasileiras de milho e é a safra que costuma ser voltada para o mercado de exportação. As exportações totalizariam 34 milhões de toneladas. Ou seja, de 94,6 milhões de toneladas produzidas, cerca de 36pc seriam destinados à exportação. Em comparação, na temporada anterior, o Brasil exportou 43pc da produção. A safra 2023-24 produziu 90,3 milhões de toneladas e o país exportou 38,5 milhões de toneladas, segundo a Conab.
Essa redução acontece porque o mercado doméstico deve consumir volumes recordes de milho em 2025. As indústrias de ração animal e etanol de milho estão crescendo e já registraram recordes de produção e consumo de milho em 2024. Participantes de mercado relatam que a maior parte das aquisições de milho que aconteceram na segunda metade do ano passada foram para esses dois setores. Produtores deram preferência à indústria doméstica por causa dos maiores preços oferecidos pelos compradores nacionais.
RC: A tendência para 2025, então, é o mercado doméstico continuar pagando um prêmio sobre as exportações e adquirindo a maior parte dos estoques?
NG: Em um primeiro momento, pode-se dizer que sim, Renata. Mas o mercado internacional passará por um aperto na oferta desta temporada. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta que o consumo de milho ultrapassará a produção em cerca de 20 milhões de toneladas. Os principais importadores de milho terão que competir de maneira mais agressiva na hora de negociar os embarques. Isso pode significar um aumento dos preços praticados nos portos.
RC: Muito obrigada por sua participação, Nathalia! Vamos continuar acompanhando os próximos acontecimentos no mercado de milho com os assessments de Santos/Tubarao e Barcarena/Itaqui publicados diariamente no relatório global de agricultura Argus AgriMarkets.
Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado.
Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!