Maria Ligia Barros: Olá pessoal, sejam bem-vindos ao Falando de Mercado, uma série de podcasts semanais da Argus Media sobre os principais acontecimentos nos setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Eu sou Maria Lígia Barros, especialista em eternal da publicação Argus Brasil Combustíveis e hoje falaremos sobre preocupações do setor com a qualidade da cana-de-açúcar nessa safra. Alguns participantes temem uma quebra no ciclo 2025 e 2026 e quem está comigo para falar sobre o tema é minha colega e também especialista do Argus Brasil Combustíveis, Maria Carolina Albuquerque.
Maria Albuquerque: Olá Lígia, é sempre um prazer estar aqui contigo trazendo assuntos relevantes para o mercado de açúcar e etanol. A safra atual de cana-de-açúcar tem apresentado alguns indicadores de qualidade e produtividade abaixo do esperado e das médias históricas também para a cultura. Isso está fazendo com que o setor reduza suas estimativas para moagem, produção de açúcar e produção de etanol.
Bom, e por que isso está acontecendo, Lígia?
MLB: O principal motivo é o clima. As chuvas estão ocorrendo em momentos desfavoráveis para o desenvolvimento dos canaviais. De janeiro a março desse ano era período de entre-safra no centro-sul e era um momento em que seria importante chover para o crescimento das plantas que vão ser colhidas no ciclo seguinte.
Porém, esse primeiro trimestre foi marcado majoritariamente por chuvas esparsas e ondas de calor. E aí as chuvas só se intensificaram entre abril e junho, que foram os primeiros meses da safra 2025-2026. E nesse período é necessário um clima mais seco para que a planta consiga desenvolver uma concentração adequada de açúcar total recuperável, o ATR. E também para que a moagem possa correr.
MA: Além disso, Lígia, outro fator que também está pesando para essa deterioração dos canaviais são as queimadas que atingiram o centro-sul no ano passado. Esse evento climático tem ocasionado mais prejuízos na safra atual do que o setor esperava.
Geralmente, quando ocorrem essas queimadas, os produtores precisam realizar alguns trabalhos de campo para retirar as impurezas e fazer com que o solo consiga voltar a ser produtivo. Porém, no ano passado, houve um período significativo de chuva após as queimadas que dificultou o trabalho de recuperação dos solos de maneira adequada e suficiente, o que tem impactado o desenvolvimento e a colheita da safra atual.
MLB: Uma ressalva que vale fazer é que aquela chuva do início da safra, a princípio indesejada por atrapalhar a moagem, ela pode vir a se traduzir numa melhora da qualidade da matéria-prima lá no fim do ciclo, perto de dezembro.
E aí isso poderia abrir espaço para uma surpresa positiva nos números da moagem no último trimestre da safra, como ocorreu no ciclo passado.
Bom, mas o que o setor tem por agora são projeções mais baixas do que as que foram feitas no início do ano. A gente conduziu um levantamento de estimativas com participantes do mercado lá atrás, em abril, antes de a safra começar, e outro em agosto. E é possível perceber esses ajustes. A principal correção foi na projeção de etanol. A mediana das estimativas agora aponta para 32,6 milhões de metros cúbicos de etanol total, ou seja, contando anidro e hidratado à base de cana e de milho.
A previsão anterior era de 34,6 milhões de metros cúbicos. O novo número fica bem mais abaixo da safra anterior, que somou 35 milhões de metros cúbicos.
MA: Já para o açúcar, a mediana das estimativas aponta para uma produção de 39,7 milhões de toneladas, em comparação com a projeção anterior, do início da safra, de 42 milhões de toneladas.
Essas revisões nas estimativas, tanto de açúcar quanto de etanol, refletem uma disponibilidade menor da matéria-prima que deve ocorrer nessa safra. O setor está estimando que a moagem de cana de açúcar fique próxima de 590 milhões de toneladas nessa temporada 25-26. Quando fizemos a pesquisa no início do ano, praticamente todos os participantes esperavam uma moagem acima de 600 milhões de toneladas, o que já não é mais uma realidade.
Por outro lado, o mix de produção ainda deve favorecer o açúcar, igual apontavam as projeções no início do ano, com inclusive um leve aumento na participação do açúcar. Agora, o mercado está estimando um mix de 51,6pc para o açúcar e 48,4pc para o etanol, em comparação com as pesquisas no início do ano, que mostravam um mix de 50,8pc para o adoçante e 49,2pc para o biocombustível. E isso deve ocorrer porque as usinas realizaram, ao longo dos últimos três anos, diversos investimentos em capacidade de cristalização, que é o que está permitindo hoje que as usinas consigam produzir volumes significativos de açúcar, mesmo com uma qualidade do insumo inferior.
MLB: Uma coisa que é interessante a gente comentar é que a gente tem visto que as preocupações com a oferta de etanol já estão tendo efeitos nos negócios. A gente descobriu que algumas usinas, a base de cana, em São Paulo e em Minas Gerais, estão pedindo para não exercer a cláusula de flexibilidade de volumes nos contratos de etanol anidro, e o motivo é justamente esses temores de que possa faltar produto.
A visão do mercado, por enquanto, é de que isso não vai acontecer a nível setorial, até porque a produção à base de milho tem crescido muito, mas é uma situação que com certeza sendo um sinal de alerta. E a gente vai seguir acompanhando todos os desdobramentos, né Maria?
MA: Isso aí Ligia, fiquem sempre ligados nos nossos conteúdos, porque estamos sempre compartilhando os últimos acontecimentos do mercado de etanol e açúcar.
Obrigada por acompanharem mais um episódio do Falando de Mercado. Nós voltamos na semana que vem com mais discussões sobre os mercados de commodities e energia do Brasil e do mundo.
Até lá!