• 3 de novembro de 2025
  • Mercados: Agriculture

Agricultores da Argentina ampliaram a utilização de fertilizantes este ano, diante de perspectivas favoráveis para as safras de milho e trigo. Em todo o Cone Sul, fazendeiros têm substituído os adubos de alta concentração de nitrogênio e fósforo por produtos de concentração mais baixa, reagindo aos preços e a oscilações na disponibilidade global de fertilizantes. Saiba mais acompanhando a conversa entre a especialista em adubos Renata Cardarelli, o especialista em agricultura Jeffrey Lewis, e Camila Fontana, chefe adjunta da redação da Argus no Brasil. 

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Camila Fontana: Olá pessoal, sejam bem-vindos ao Falando de Mercado, a série semanal de podcasts da Argus sobre os principais assuntos dos setores de commodities e energia. Eu sou Camila Fontana, chefe adjunta da redação da Argus no Brasil e no episódio de hoje o tema é o mercado de grãos e fertilizantes no Cone Sul, especialmente na Argentina. Quem está aqui comigo é a especialista em adubos Renata Cardarelli e o especialista em agricultura Jeffrey Lewis. 

Começando pela Renata. Renata, obrigada pela sua participação. Como o mercado de fertilizantes tem se comportado na Argentina ultimamente? O país deve registrar aí um aumento no uso de adubos neste ano?  

Renata Cardarelli: Oi Camila, é um prazer estar aqui, muito obrigada pelo convite. 

Sim, a Argentina deve ter um incremento no uso de fertilizantes neste ano. Participantes de mercado indicam que o volume deve ultrapassar 5 milhões de toneladas, ficando, alguns até indicando em torno de 5,2 milhões de toneladas, acima do volume do ano passado, que ficou em torno aí de 4,9 milhões de toneladas. Isso muito reflexo da boa perspectiva para a safra 2025-26 do país, especialmente de milho. 

O relatório mais recente do USDA, que é o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, é de setembro e aponta que a Argentina deve produzir em torno de 53 milhões de toneladas de milho contra 50 milhões de toneladas na safra anterior. Neste momento, nós estamos vendo baixa liquidez no mercado de importação da Argentina, já que agricultores estão muito concentrados justamente nos trabalhos de campo. O ritmo avança, por exemplo, para o milho de forma acelerada, o plantio, e chuvas bastante satisfatórias. 

Existe alguma demanda, uma demanda muito pontual por ureia no país, mas nós não temos visto uma movimentação muito grande. Justamente a ureia que representou a maior parte dos fertilizantes entregues em 2024, com 2,8 milhões de toneladas, ou 57pc do total usado no país. 

As importações de ureia estão muito em linha com as registradas no ano passado, de janeiro a agosto, de acordo com o dado mais recente disponível, e essas negociações devem se intensificar justamente agora ainda em outubro até dezembro na Argentina.  

Então, claro, participantes do mercado argentino acompanham muitos desdobramentos globais para entender o direcionamento dos preços, principalmente olhando para o mercado brasileiro e para o mercado indiano com os últimos leilões de compra de ureia.  

CF: Agora, Jeffrey, obrigada primeiramente por aceitar o convite. Já faz algum tempo que a gente tem ouvido falar que a Argentina terá uma safra recorde de trigo este ano. Qual é a situação atual?  

Jeffrey Lewis: Olá, Camila e Renata. Sim, é verdade. Faz vários meses que estão falando de uma colheita bem grande de trigo. Choveu muito no inverno do hemisfério sul na Argentina, em julho e agosto, muita quantidade também numa região bem grande, o que não é normal nesses meses. Então, isso deixou condições super boas para toda a região, como os níveis de umidade na terra maiores da média de cinco anos, dependendo de quem está medindo. 

Então, a perspectiva ainda é muito boa. A Bolsa de Cereais de Buenos Aires tem uma previsão de 22 milhões de toneladas de trigo para 2025-26 e a Bolsa Comercial Rosario tem uma previsão de 23 milhões de toneladas e, em ambos os casos, isso é ou um recorde ou bem perto do recorde. É muito normal para esses dois grupos terem números diferentes, mas geralmente ficam pertos. Estamos vendo ambos os lugares estão com uma previsão bem grande.  

CF: E algum problema até agora?  

JL: Bem, esta chuva também trouxe uns problemas. Tem excessos de chuva em umas partes localizadas, pequenas, na província de Buenos Aires. 

Buenos Aires é uma província bem importante na Argentina em termos de agricultura. É o maior produtor de trigo, de maiz, de soja, de cevada. Então, esses problemas dos campos, das lavouras inundadas, como todos esses cultivos, não é só no trigo. 

Também tem problemas que os caminhos rurais também estão inundados. Então, isso dificulta o acesso às lavouras em alguns lugares. Mas, mesmo assim, mesmo com esses problemas, as expectativas de rendimento são altas. 

Mesmo com esses problemas, teve uma redução na expectativa da área colhida para trigo em umas partes de Buenos Aires. Mas essas expectativas de rendimento alto estão proibindo produção recorde. Outro problema, que vem também do excesso da água, são surtos de fungos e alguns insetos, também bem localizados, porque as condições que favorecem esses rendimentos bons também favorecem esses surtos. 

Mas, os produtores têm estado muito alerta a problemas e têm reaccionado. Eles têm aplicado defensivos nos lugares onde seja preciso e estão controlando todos esses problemas.  

CF: Voltar agora para a Renata. Os agricultores têm comprado e substituído os fertilizantes de alta concentração de nitrogênio e de fósforo por adubos de concentração mais baixa. Esse movimento tem sido visto no resto do Cone Sul também, Renata?  

RC: É verdade, Camila. No Brasil, esse movimento tem sido muito comum, especialmente neste ano, por causa do preço do ponto de nitrogênio e de fósforo registrado no Brasil. 

Mas, nos demais mercados do Cone-Sul, acompanhados pela Argus, nós não temos visto esse mesmo movimento.  

No Brasil, importadores e agricultores, o que eles têm feito? Eles têm substituído, se voltado ao sulfato de amônio, em detrimento da ureia, substituindo volumes de ureia e SSP em substituição ao MAP. Isso acontece por causa do preço, como eu mencionei, mas também por causa da disponibilidade global desses fertilizantes. 

Na Argentina, a tendência de importação tem sido inversa. Então, o SSP, que no Brasil teve um avanço de 52pc na importação neste ano, na comparação com o ano anterior, na Argentina o sulfato registrou uma redução na importação de 19pc no ano. E o Paraguai tem uma situação muito curiosa, porque ele acaba buscando muito volume do Brasil. 

Neste ano, só de janeiro a setembro, o Brasil forneceu em torno de 10pc do volume importado pelo Paraguai. Então, com a maior disponibilidade no mercado brasileiro, os agricultores no Paraguai também têm postergado as compras de sulfato de amônio já mais tranquilos, havendo mais disponibilidade no Brasil. O SSP, o mesmo movimento entre Brasil e Argentina. 

Então, na Argentina, a importação caiu 55pc, enquanto no Brasil o volume importado aumentou 18pc. Na Argentina, os participantes de mercado estão acompanhando essa movimentação do Brasil para entender os benefícios ou malefícios para o solo e entender se caberia fazer esse tipo de substituição na Argentina. Mas, por hora, por enquanto, a gente não tem visto essa substituição. 

Apenas essa movimentação mais de observação e análise dos participantes, dos agricultores da Argentina.  

CF: Queria focar novamente na safra de trigo da Argentina. Jeffrey, qual é a perspectiva para o mercado quando a safra for colhida?  

JL: A colheita de trigo na Argentina começa mais ou menos na metade de novembro e, geralmente, começam a carregar para a exportação no início de dezembro. Agora mesmo, a perspectiva para a Argentina é muito boa.  

O mundo está produzindo muito trigo. Outros produtores também estão tendo colheitas boas. Então, o preço é baixo. Até quase mais baixo do que na média de cinco anos. Mas o preço para o trigo argentino é muito bom e muito competitivo, sobretudo na região do sudeste da Ásia, mas também em outras regiões. 

E os competidores da Argentina agora seriam, por exemplo, a Austrália, outro país do hemisfério sul. E, na Austrália, agora estão tendo uns problemas com os portos. Tem outras culturas que já têm reservado muitos berços e está faltando espaço para o trigo. 

Então, isso pode dificultar a exportação de trigo australiano em dezembro, por exemplo. No Mar Negro tem um problema um pouco diferente, que os produtores naquela região não estão vendendo muito. Estão esperando pelo preço subir. Até agora, pelo menos, faz umas semanas que não estão exportando muito. Então, essa situação segue. Se essa situação seguir, em dezembro, a Austrália pode ter muitas boas condições para suplementar trigo às regiões onde normalmente não está vendendo. 

CF: Agora, Renata, safra de soja no Paraguai. O plantio da safra 2025-26 está avançando. E como os compradores do mercado paraguaio têm se comportado pensando no plantio para safrinha?  

RC: Pois é, Camila. Com esse avanço da safra de soja 2025-26 no Paraguai, os produtores estão muito voltados para os trabalhos de campo e aproveitando também as boas condições climáticas no país. Então, as compras de fertilizantes para safrinha seguem em ritmo lento.  

Agora, a expectativa é de intensificação dos negócios de cloreto de potássio, principalmente agora, ainda em outubro e, mais especificamente, em novembro, pensando que a importação neste ano já avançou no Paraguai em torno de 6pc entre janeiro e setembro, mas ainda precisa avançar. 

De forma geral, participantes indicam que cerca de 40pc das necessidades para a safra de milho ainda estão em aberto. Então, ainda falta que esse percentual seja negociado no Paraguai e a gente deve ver essa movimentação agora no fim do ano.  

CF: Obrigada, Renata. Obrigada, Jeffrey. Obrigada também a você que acompanhou mais um episódio do Falando de Mercado.  

Todos os episódios da série estão disponíveis no site Argusmedia.com e nas principais plataformas de streaming. A gente volta na próxima semana. Até lá.