A antecipação da mistura do biodiesel para 14pc em março elevará os custos dos insumos em 2024, em meio a um cenário de possível quebra de safra de soja em Mato Grosso e alta da exportação de sebo bovino. A Argentina deverá recuperar espaço nos embarques de óleo de soja.
O óleo de soja caiu neste ano influenciado por cinco edições do "dólar de soja" na Argentina, em mudanças feitas para impulsionar a arrecadação de divisas no país vizinho. Em Paranaguá, a perda foi de 30pc, para $890/t fob, conforme dados da Argus para o período entre 6 de janeiro e 22 de dezembro. Já o produto colocado em São Paulo caiu 22,5pc, a R$5.350/t cif.
A cotação do sebo bovino, segunda matéria-prima mais usada no país, registrou queda menor, de 13,15pc, a R$4.950/t cif São Paulo. O avanço nos embarques para o Golfo Americano levou o produto a ser negociado com prêmio ante o óleo de soja no período de março a maio e em outubro.
Participantes ouvidos pela Argus ainda não acreditam na falta de insumo de biodiesel, mas acompanham atentamente as previsões para o clima mais seco no maior produtor da oleaginosa no país e os cortes nas previsões para colheita.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu no início do mês a estimativa para a produção de soja em 2,2 milhões de t, para 160,2 milhões de t, em 2023-24. No radar está a condição climática desfavorável causada pelo fenômeno meteorológico El Niño.
Mesmo com o corte, o volume é 3,6pc acima do recorde de 154,6 milhões de t no ciclo 2022-23. O Itaú BBA prevê uma colheita de 153 milhões, queda de 7,2 milhões de t, sendo que em Mato Grosso a quebra pode chegar a 20pc, com colheita abaixo de 40 milhões de t.
Um analista de uma trading estima que a mescla em 14pc aumentará a demanda por óleo de soja em 300.000t em 2024. O diferencial da commodity em Paranaguá em relação à Bolsa de Chicago (CBOT) tem ficado mais firme que o de Rosário, na Argentina, devido ao risco climático brasileiro.
O plantio da safra de soja no país está 2,1 pontos percentuais abaixo da temporada passada, em 94,6pc, conforme dados da Conab. O clima no início do ano será essencial para o crescimento das lavouras e poucas chuvas poderão pressionar para cima o preço do óleo vegetal na Bolsa.
Do lado do sebo bovino, o setor de frigorífico e reciclagem animal mantém estável a estimativa para a produção entre 1,1 milhão e 1,3 milhão de t em 2024. Desse total, uma fatia de 35pc costuma ser direcionada para o biodiesel, e o restante dividido entre higiene e limpeza, indústria de alimentação animal e pet food.
O Brasil exportou 198.340t de sebo bovino de janeiro a novembro de 2023, ante 81.348t em todo o ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A capacidade limitada de tancagem aquecida nos portos impede um avanço mais rápido nos embarques, mas investimentos mapeados nos portos de Porto Alegre (RS), Paranaguá (PR) e Itaqui (MA) deverão dar suporte para as exportações no próximo ano.
Produtores de biodiesel no Brasil começam a olhar alternativas para eventualmente substituir o sebo por outros insumos em períodos em que o produto estiver premiado em relação aos óleos vegetais. Algumas opções são óleo de algodão, óleo de cozinha usado e mix de outras gorduras animais.
Importação
A importação de biodiesel continua no radar da indústria, apesar da decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de suspender a autorização para importar biodiesel anunciado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Ontem, o Ministério de Minas e Energia publicou no Diário Oficial da União (DOU) que o grupo de trabalho com integrantes de nove pastas avaliará os impactos, tendo como premissa preservar o conteúdo nacional e avaliar o novo modelo de comercialização iniciado em 2022.
O setor produtivo, representado pela Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio), estava trabalhando para reverter a decisão. Segundo os produtores, a liberação para importar o biocombustível teria potencial para travar os investimentos da indústria.
A equipe que será criada terá 180 dias para submeter ao CNPE um relatório sobre os efeitos da importação. Este grupo deverá ser montado em até 30 dias.
Por Alexandre Melo
| Produção de biodiesel | milhões m³ |
| Ano | |
| 2012 | 2,7 |
| 2013 | 2,9 |
| 2014 | 3,4 |
| 2015 | 3,9 |
| 2016 | 3,8 |
| 2017 | 4,1 |
| 2018 | 5,3 |
| 2019 | 5,9 |
| 2020 | 6,4 |
| 2021 | 6,8 |
| 2022 | 6,3 |
| 2023* | 7,3 |
| 2024* | 8,9 |
| 2025* | 10,1 |
| *Estimativa | |
| — ANP, Abiove | |


