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Etanol brasileiro pode protagonizar mercado de SAF

  • Spanish Market: Biofuels
  • 08/09/23

O Brasil precisa construir uma agenda diplomática para se tornar um dos protagonistas na indústria do combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês), avalia Bernardo Grandin, presidente da GranBio.

A visão do executivo tem como pano de fundo a movimentação do setor de aviação para cumprir a ambiciosa meta de zerar as emissões de carbono até 2050.

O SAF é considerado vital para a descarbonização da indústria aérea, que é de difícil eletrificação. Segundo Grandin, isso oferece uma oportunidade estratégica para o setor brasileiro de etanol se posicionar como um fornecedor importante nesta cadeia produtiva, especialmente nos Estados Unidos.

Incentivos governamentais para substituir o combustível fóssil de aviação – especialmente a Lei de Redução da Inflação dos EUA (IRA, na sigla em inglês) – promoveram uma "demanda superlativa" pelo biocombustível de aviação no país, afirmou Grandin, com a via de conversão da tecnologia alcohol-to-jet (AtJ, na sigla em inglês) proporcionando o caminho mais viável para chegar até lá.

O programa federal norte-americano Padrão de Combustíveis Renováveis (RFS, na sigla em inglês) exigirá que o SAF alcance uma redução de ao menos 50pc nos gases de efeito estufa em relação ao petróleo, e de 60pc para atingir uma avaliação máxima de até $2,20/USG sob os créditos RINs desse programa, de acordo com a GranBio.

"O Departamento de Energia dos EUA sente que, possivelmente, precisará importar etanol de cana-de-açúcar brasileiro, pois o etanol de milho deles convertido diretamente em SAF não proporciona essa redução de 50pc", contou Grandin à Argus, durante uma conferência do setor, nesta semana.

Há, também, pressão adicional dos reguladores para que as companhias aéreas celebrem mais acordos de longo prazo para compra de SAF, os chamados offtakes, diz Grandin.

"O desafio é fazer com que a indústria dos EUA perceba que o biocombustível brasileiro – especialmente aquele produzido com uma pegada neutra em carbono – poderia descarbonizar o etanol de milho deles através da mistura", disse Grandin.

Dada a ameaça representada pela expansão da eletrificação dos veículos, a agenda global do SAF poderia fazer parte de uma estratégia de diversificação muito necessária para os produtores brasileiros de biocombustíveis direcionarem sua oferta excedente.

"É uma oportunidade comercial única e o Brasil precisa se posicionar rapidamente", apontou Grandin. Nas contas da GranBio, seria necessário duplicar a capacidade total de etanol do Brasil para suprir 5pc do que os EUA vão precisar até 2050 de conversão de etanol em SAF.

O Centro-Sul, principal região produtora de cana-de-açúcar do país, produziu 28,9 milhões de m³ de etanol na safra de 2022-23.

Enquanto a indústria de SAF demora a engatar no Brasil, a GranBio recebeu uma doação de $80 milhões do programa SAF Grand Challenge Roadmap, do Departamento de Energia dos EUA, para acelerar o desenvolvimento de tecnologia para produção no país.

Este apoio financeiro ajudará a construir uma planta em escala semicomercial capaz de produzir 10.000 m³/ano do produto, usando etanol de segunda geração (E2G), ou celulósico, feito a partir de lascas de madeira e bagaço de cana-de-açúcar.

O objetivo é produzir o renovável com pegada neutra em carbono, disse Grandin. Os investimentos no projeto, que deve entrar em operação em 2027, chegam a $220 milhões.

Produção de etanol 2G

A história da GranBio está entrelaçada com o difícil e promissor desenvolvimento do etanol de segunda geração como um biocombustível avançado comercialmente viável.

A empresa iniciou a produção da primeira planta de etanol celulósico em escala comercial no hemisfério Sul em 2014, após um curto período de construção, de 20 meses. A planta foi construída em Alagoas, com capacidade de produção de 30.000 m³/ano.

Quando foi inaugurada, a unidade era a instalação de combustível em escala comercial mais limpa do mundo em termos de intensidade de carbono – 7,55 gCO2/MJ, desempenho confirmado pelo Conselho de Qualidade do Ar do Estado da Califórnia (CARB, na sigla em inglês).

Mas, desde então, as operações na fábrica de Alagoas têm sofrido com paralisações regulares e a empresa tem lutado para ser lucrativa.

Endividada, a família Grandin decidiu vender alguns ativos para recompor o fluxo de caixa da companhia, no ano passado. A mudança encolheu a GranBio no fim de 2022, mas a tornou mais capaz de prosseguir o seu compromisso com o SAF de E2G, declarou a empresa.

"O problema do E2G sempre foi o preço", afirmou Grandin, insistindo que o gargalo tecnológico nunca foi a questão primordial. "A indústria acreditava que os mandatos dos EUA e da Europa garantiriam um preço mínimo, mas eles não vieram como esperado."

Para ele, se não houver preços atrativos, não há razão para produzir E2G. Houve um momento, no ano anterior, em que os preços atingiram os $1.400/t na União Europeia, mas as revisões no mandato da Diretiva de Energias Renováveis da União Europeia (RED II, na sigla em inglês) reduziram esse valor.

Grandin estima um custo de produção atual de R$2,40-2,80/l, o que torna "impossível" a venda no mercado interno, completou.

O Brasil deveria priorizar o lançamento de um preço interno do carbono para impulsionar a produção local de SAF e desenvolver agendas diplomáticas com a Europa e os EUA para atender às suas necessidades de demanda, disse o executivo.


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