A nova tarifa dos Estados de Unidos mirando o Brasil pouco afetará o setor de etanol, mas a eventual resposta brasileira pode determinar se o Nordeste vai realmente importar etanol norte-americano em grandes quantidades nesta safra, como se especulava.
O presidente dos EUA, Donald Trump, decretou tarifas adicionais de 40pc sobre produtos de origem brasileira, válidas a partir de 6 de agosto. Com isso, a taxação total sobre o etanol do Brasil vai a 52,5pc, considerando ainda a alíquota base de 2,5pc mais os 10pc anunciados em abril por Trump.
Participantes do mercado não esperam grande impacto domesticamente, já que o Brasil exporta volumes ínfimos aos EUA em relação ao que produz.
O Brasil destinou 303.960m³ de etanol para os EUA entre abril de 2024 e março de 2025 – período que compreende a safra de cana-de-açúcar –, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). O volume representa apenas 0.8pc dos 36,7 milhões de m³ produzidos a partir de cana-de-açúcar e milho durante o período, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Hoje, boa parte do volume exportado para os EUA são de contratos de longo prazo para atender à indústria norte-americana. Algumas das empresas norte-americanas envolvidas nas operações usufruem do mecanismo drawback, que nos EUA prevê o ressarcimento de impostos de importação pagos em bens que serão usados como insumos de produtos a serem exportados futuramente. Nesses casos, as tarifas de 50pc de Trump fazem pouca diferença.
Participantes de mercado esperam que os volumes contratados neste fluxo recuem levemente a partir de fevereiro de 2026, visto que os contratos até janeiro já estão fechados.
A maior parte da produção brasileira é consumida domesticamente, dada a demanda da frota de veículos flex somada ao mandato de mistura na gasolina. O consumo interno pode aumentar ainda mais com o E30, que vai aumentar a mescla do biocombustível na gasolina, passando de 27pc para 30pc a partir desta sexta-feira.
Tarifa brasileira
Agora, o setor aguarda para entender se o governo brasileiro vai alterar suas barreiras tarifárias contra o etanol norte-americano. Hoje, existe uma alíquota de 18pc sobre o etanol importado de fora do Mercosul.
No cenário de o Brasil diminuir ou zerar a taxa, a janela de arbitragem pode se abrir e ocasionar importações superiores à faixa de 400.000-800.000m³ atualmente esperada por participantes do mercado para a safra 2025-26.
A maior parte do volume iria para os portos do Nordeste, em função da proximidade geográfica e do custo de frete reduzido.
Já no caso de uma retaliação, um aumento de tarifas inviabilizaria a abertura da arbitragem, que alguns importadores acreditavam que poderia acontecer a partir de setembro.
Existe uma exceção no mercado. Há pelo menos uma empresa brasileira que utiliza do drawback no Brasil. Para essas, mudanças nas tarifas não mudam o plano de importar volumes do Golfo americano nesta safra.

