A Bolívia suspendeu a produção em sua usina com capacidade para produzir 700.000 t/ano de ureia e amônia devido à falta do aditivo importado formaldeído, disse à Argus, Antonio Pino, vice-ministro da produção e industrialização de hidrocarbonetos.
O governo está aproveitando o tempo de inatividade para realizar a manutenção da unidade, afirmou.
"Esperamos resolver os problemas até meados do próximo mês e estamos trabalhando para adquirir o aditivo ", acrescentou Pino.
Ele disse que o governo também está usando o período de manutenção para reavaliar como a produção é usada e revisar os acordos de exportação para priorizar o mercado doméstico. A fábrica, que funciona de forma intermitente desde o seu lançamento em 2017, está localizada em Bulo Bulo, no departamento central de Cochabamba.
"O governo anterior tomou decisões baseadas na política, o que prejudicou a indústria. Paramos com isso", afirmou Pino, referindo-se ao antigo governo de Evo Morales.
A usina de ureia, com 1,4 milhão de m3/d de gás natural boliviano, foi desativada no ano passado durante protestos, depois que Morales venceu um controverso quarto mandato em outubro. As eleições foram consideradas fraudulentas por observadores internacionais, desencadeando os protestos que levaram à renúncia de Morales em novembro e ao atual exílio na Argentina, após uma temporada no México. Morales foi substituído pela conservadora presidente Janine Anez. A Bolívia realizará novas eleições em 3 de maio.
O suprimento de gás para a usina de ureia foi restaurado em dezembro, mas as operações foram suspensas novamente no início de janeiro devido ao déficit de formaldeído.
O governo de Morales planejava construir uma fábrica de formaldeído, mas uma licitação inicial para o contrato foi cancelada. Outro projeto para construir uma usina de metano também não decolou. Os projetos faziam parte do esforço do governo anterior de desenvolver mais indústrias para aproveitar o gás da Bolívia, a maior parte exportada atualmente por dutos para o Brasil e a Argentina.
Pino disse que o governo está agora trabalhando em uma estratégia dupla de adquirir formaldeído e redesenhar o projeto para produzi-lo.
O ministério de hidrocarbonetos também começou a revisar contratos, demanda doméstica e estruturas de preços antes do reinício esperado da usina no próximo mês.
"Precisamos decidir quais contratos devem ser mantidos, como podemos priorizar melhor o mercado local e estudar os preços em relação à concorrência", afirmou.
O principal mercado de exportação é o Brasil. A Bolívia assinou um acordo em janeiro de 2018 com a Keytrade, trading suíça, para intermediar 335.000t de suprimento de ureia para o Brasil. Esse contrato será reavaliado.
Além disso, o governo boliviano precisa decidir se fará um acordo, atualmente em espera, com a gigante russa de fertilizantes Acron para distribuir a ureia boliviana no exterior. O acordo também pedia que a Bolívia fornecesse à Acron 2,2 milhões de m3/d de gás para uma usina de ureia no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul.
Cuba negocia acordo
Pino confirmou que o primeiro contrato a ser rescindido é com a estatal cubana Quimimport, porque o preço do contrato estava abaixo do valor de mercado. O acordo, assinado pelo governo de Morales em maio de 2019, fazia parte de um pacote maior que incluía exportações bolivianas de carne bovina, aves e leite em pó para a ilha.
Cuba e Venezuela foram os aliados políticos mais próximos de Morales, que governou a Bolívia por quase 14 anos.
Pino disse que a ureia que seria vendida a Cuba com desconto agora poderia ser usada para estimular a produção agrícola da Bolívia, especialmente a soja, o principal produto agrícola do país.
O governo Anez eliminou recentemente os controles de exportação de soja e outras culturas oleaginosas. A Bolívia exportou 1,7 milhão de t de soja nos três primeiros trimestres de 2019.
Por Lucien Chauvin
