O último leilão de biodiesel da história deverá ser marcado por uma sobreoferta do produto pelas usinas que poderá reduzir o preço do biocombustível para novembro e dezembro. A demanda sazonalmente mais fraca e o corte na mistura obrigatória no diesel de 12pc para 10pc criam cenário para o certame com menor volume de venda de 2021.
As incertezas sobre o arcabouço tributário, a precificação e a comercialização do biodiesel que precisam ser definidos para o novo modelo de venda direta, previsto para iniciar em janeiro de 2022, vão permear o leilão realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que acontecerá entre 4 e 8 de outubro.
Levantamento feito pela Argus com usinas e distribuidoras de combustíveis mostra que a expectativa dos agentes é de que o preço médio caia 1,2pc, para R$5.613/m³, ante o R$5.683/m³ registrado na licitação para setembro e outubro. A média dos preços estimada pelos produtores é de R$5.654/m³, enquanto as varejistas projetam R$ 5.572/m³.
Apesar de os preços do óleo de soja e do sebo bovino normalmente subirem no último trimestre devido à entressafra da oleaginosa, os participantes de mercado consideram que o descasamento entre oferta e demanda de biodiesel é o principal fator da queda dos preços. Neste período, as safras de cana-de-açúcar e de soja terão acabado e alguns setores da indústria entram em férias coletivas.
Componente mais importante do biodiesel, o valor do óleo de soja degomado subiu 1,7pc entre 13 de agosto e 24 de setembro, para R$7.375/t cif São Paulo com 12pc de ICMS, conforme indicador da Argus. A queda nos abates de gado também diminuiu a oferta de sebo, que aumentou 6,7pc, para R$7.200/t cif São Paulo no mesmo intervalo.
A cotação do contrato futuro da commodity na Bolsa de Chicago (CBOT) caiu 9,2pc entre 13 de agosto e hoje, para 57,83¢/lb, influenciado pelo início da safra de soja nos Estados Unidos. Dados do Banco Central mostram que a cotação do dólar atingiu R$5,4032, alta de 3pc no mesmo período, favorecendo a exportação de soja.
Participantes do leilão esperam que o volume médio ofertado ficará em 1,408 milhão de m³, representando 72pc da capacidade de produção anunciada pelas usinas, enquanto a demanda estimada é de 1,014 milhão de m³, 22pc inferior ao do leilão ocorrido em agosto de 2021.
Do lado das fabricantes, a média das projeções para oferta é de 1,392 milhão de m³, e para a demanda, de 1,033 milhão de m³. As distribuidoras projetam oferta ligeiramente maior, de 1,425 milhão de m³, e demanda de 996.000m³.
Fontes ouvidas pela Argus afirmaram que as usinas da região Sul deverão entrar no leilão com oferta maior porque a disponibilidade de soja para esmagar é maior quando comparada à do Centro-Oeste, onde os índices de comercialização do grão superam os 90pc.
Até hoje, 44 usinas estão habilitadas para participar do leilão. As unidades da Binatural, em Simões Filho (BA), e da Brejeiro, em Orlândia (SP), tentam recurso após terem sido inabilitadas pela ANP.
Estoque e mudança de modelo
Com o fim dos leilões públicos de biodiesel, algumas distribuidoras estudam a possibilidade de aumentar os estoques de passagem do biocombustível de dezembro para janeiro. Existe o receio de que o entrave tributário impossibilite as aquisições do produto nos primeiros dias do próximo ano.
Entre as grandes varejistas, o estoque de passagem de um bimestre para o outro normalmente oscila entre cinco e dez dias de consumo médio, e poderiam ser adicionados ao menos mais três dias para garantir uma margem de segurança, caso mudanças nos sistemas de tributação impossibilitem novas vendas.
Por Alexandre Melo

