As restrições para comercialização e importação de nitrato de amônio no Brasil devem reduzir a disponibilidade do composto no mercado local e causar alterações na demanda em 2019.
A portaria nº 42 do Comando Logístico do Exército Brasileiro, publicada em 28 de março de 2018, regula a comercialização e armazenagem de NA e outros adubos com nitrogênio nítrico em sua composição, como o nitrato estabilizado, o nitrato de amônio-cálcio (CAN) e misturas de NPK.
Antes, as restrições para importação e armazenamento afetavam apenas o NA tradicional, o que estimulava compradores a pagarem um prêmio na compra das demais variedades do composto sobre o produto puro. A nova legislação isenta agricultores da autorização para compra de NA, mas exige que misturadoras, fábricas e revendas tenham licença para a aquisição. Participantes devem se ater à nova legislação até março de 2019.
"O principal impacto da nova legislação será na oferta de NA, que tende a se tornar mais restrita uma vez que menos participantes devem obter as licenças necessárias para importação, venda e distribuição do produto", disse o presidente de uma misturadora na região Sudeste.
Compradores brasileiros, sobretudo agricultores de café, cana e laranja da região Sudeste, preferem aplicar NA em suas lavouras por conta da menor volatilidade na liberação de nitrogênio em relação à ureia, tradicional substituto ao NA. As especificações obrigatórias para estocagem de NA no próximo ano tendem a mudar o perfil da demanda pelo composto, mas os impactos sobre a procura devem variar.
"Tradicionalmente compramos NA estabilizado pela facilidade de armazenagem e que hoje não é regulamentada. Se precisarmos investir na adequação de nossos armazéns, migraremos nosso consumo para o NA puro, pois não compensará mais pagar um prêmio pela variedade estabilizada", disse o gerente de insumos de uma grande cooperativa no Centro-Oeste.
Já o executivo de uma distribuidora de adubos com atuação nas regiões Centro-Oeste e Sudeste tem uma visão diferente. "Muitos de nossos compradores são de pequeno porte e devem comprar ureia encapsulada com redutores de volatilização em vez de investir em seus armazéns devido aos altos custos para adaptarem seus estoques", afirmou.
A procura brasileira por NA estagnou ante à de 2017, reduzindo os spreads entre o composto e a ureia desde janeiro – indicativo que o NA se manteve mais barato que a ureia em relação ao teor de nitrogênio. O diferencial ficou $45/t negativo no final de junho, abaixo tanto da comparação anual de $78/t positivos quanto da média histórica de $103/t positivos, segundo os índices Argus para os preços de NA e ureia granulada importados no Brasil.
Os efeitos que a nova legislação causará sobre a oferta e a demanda de NA no mercado brasileiro devem ser sentidos apenas a partir de 2019. Atualmente, a procura brasileira por fertilizantes tem sido contida pela alta volatilidade cambial desde janeiro. As importações brasileiras de adubos acumulam queda anual de 11,5pc entre janeiro-maio para 8,2 milhões de t, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Já as compras de NA entre janeiro-maio caíram mais de 50pc na comparação anual para 490.000t, disse uma misturadora da região Sudeste. Entretanto, a Anda entende que o recuo decorre da elevada base de comparação no ano passado, quando compradores importaram maior volume de NA por receio de desabastecimento após o incêndio que atingiu a planta produtora de nitrato da Vale, em Cubatão, em janeiro daquele ano.

